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Aluno gabarita química no Enem e passa em medicina na UFAC

Com a aprovação, Guilherme Cruz tornou-se a primeira pessoa da sua família a ingressar no ensino superior 

Muitas pessoas acreditam que só é possível passar em Medicina quando se tem um histórico escolar exemplar – mas nem sempre isso é verdade.

Claro que toda bagagem ajuda muito, mas alguns estudantes ainda não sabem que essa será a sua escolha profissional. E aí, se você decidir que quer essa carreira quando chegar no terceiro colegial, como faz? Desiste só porque não se preparou antes?

Não. Se isso acontecer, é melhor fazer como Guilherme Cruz. O aluno de escola pública teve uma vida escolar conturbada, mas isso não o fez parar. Ao se formar no ensino médio, ele decidiu que se tornaria médico e se dedicou totalmente para isso.

Guilherme Cruz fez dois anos de cursinho presencial, mas descobriu que se dava melhor estudando em casa. Em 2016, começou a estudar pelo Stoodi e no final do ano conseguiu três aprovações nos vestibulares.

O jovem mora no interior do Rio Grande do Sul, em Rodeio Bonito, e foi o primeiro membro de sua família a ingressar no ensino superior. Agora, será o mais novo aluno da UFAC, Universidade Federal do Acre.


Foi preciso de muita resiliência para vencer a base de estudos deficitária – para se ter uma ideia, ele conta que passou o segundo ano do ensino médio inteiro sem ter aula de física. Mas deu tudo certo. Na última edição do ENEM, Guilherme somou 735 pontos em sua média e gabaritou a matéria de Química.

“Eu lembro de ter focado bastante em Química e Física, então eu já esperava ir bem. Nesse ENEM, eu acertei 40 de 45 questões e fiquei muito feliz”, conta o estudante.

Para conhecer um pouco mais da trajetória de Guilherme, saber como era rotina e conferir todas as dicas de estudos, confira o nosso bate-papo:

Stoodi: Como foi a emoção para a sua família? 

Guilherme Cruz: Isso foi muito bacana, mas muito bacana mesmo. Toda a minha família ficou incrivelmente orgulhosa, desde meus pais, tios, avós e primos. Todos eles.

Minha avó adora falar que o neto dela vai ser médico. Tem sido um orgulho para todos eles. Eu retribuí a eles tudo o que me deram ao longo desses anos – que foi o apoio, a ajuda financeira e também o incentivo.

Stoodi: Em quais universidades você foi aprovado?  

Guilherme Cruz: Eu consegui três aprovações neste ano. Fui aprovado na Ulbra, no interior do Rio Grande do Sul. Fui aprovado na Unochapecó, uma particular do estado de Santa Catarina. E recentemente eu fui aprovado na UFAC, que é a Federal do Acre.

Eu vou para a UFAC, pois não tenho condição de me manter numa faculdade particular, então eu escolhi ir para a Federal do Acre.

Stoodi: Você estudou em colégio público ou particular? 

Guilherme Cruz: A minha vida inteira eu estudei em escola pública. Eu sou de uma cidade bem do interior, chamada Rodeio Bonito, que fica a umas seis horas de Porto Alegre, a capital.

No começo do ensino médio eu já queria Medicina, mas foi no último ano que eu resolvi focar nos estudos e fui para um cursinho. Fiz um ano de cursinho presencial em Santa Maria e depois fiz mais um ano de cursinho em Porto Alegre.

Mas eu não tinha capital suficiente para fazer o cursinho voltado para medicina, então eu fazia cursinhos alternativos, que eram mais baratos. Eles ficam devendo muito. Eu chegava na hora do vestibular e tinham coisas que eu não tinha visto – algumas coisas simples, como plano inclinado, por exemplo.

Foi então que um professor meu disse que se eu quisesse resultados diferentes, eu teria que fazer coisas diferentes. Então, eu resolvi voltar para casa, já que ficaria mais cômodo para mim e eu ficaria perto da minha família, para estudar sozinho.

Eu tinha um material muito bom, eu nem pensava em assinar o Stoodi. Depois que eu conheci foi incrível porque eu tinha mais outro material que era muito bom em videoaula.

Stoodi: Quando apareceu o sonho de cursar Medicina?

Guilherme Cruz: A minha família nunca passou do ensino médio (desde os meus avós). Eu queria entrar num curso superior pela primeira vez e mudar isso. Então, eu comecei a pensar no que eu gostava.

Eu não tinha interesse em outras áreas que não fossem relacionadas à área da saúde. Aí, eu fiquei entre Enfermagem e Medicina.

Se eu escolhesse enfermagem, eu poderia ficar na minha cidade, seria muito cômodo e eu queria mesmo fazer algo totalmente diferente, um desafio que não fosse de fácil acesso.

Eu acabei decidindo fazer Medicina, é o que eu me vejo fazendo para o resto da minha vida.

Stoodi: Durante o colégio, você era um bom aluno? 

Guilherme Cruz: Minha vida escolar foi conturbada, nunca fui um bom aluno. Eu incomodava muito, conversava muito e não tinha um grande interesse porque a minha escola foi muito deficitária – como deve ser em grande parte do país.

Eu fiz o ensino médio no noturno e a gente tinha professores que não iam. Para se ter uma ideia, durante o meu segundo ano inteiro eu não tive professor de física. Bom, quando eu entrei no cursinho tudo era muito novo.

Eu não culpo só os meus professores e a falta de qualidade do ensino público do Brasil, muito foi da minha parte também. Eu realmente não tinha interesse em estudar.

Stoodi: Quando você decidiu focar nos estudos? 

Guilherme Cruz: Quando eu terminei o ensino médio, eu me vi muito dedicado. O que fez a minha diferença nos estudos foi a minha dedicação.

Quando eu cheguei no cursinho foi bem assustador porque a gente tinha uma carga horária alta e eu ficava muito cansado, a ponto de não conseguir mais estudar. Aquilo ali para mim era muito difícil.

O primeiro ano de cursinho eu realmente não fiz nada. Eu só assistia aula. Chegava em casa e estudava, mas eu não sabia como estudar. O diferencial foi quando eu aprendi como estudar.

Quando eu aprendi a estudar, eu mudei a minha rotina e aumentou muito as minhas áreas de estudo.

Stoodi: Na sua opinião, qual é o jeito certo de se estudar? 

Guilherme Cruz: A minha forma de estudo era assim: eu sentava, assistia às videoaulas sem deixar a matéria incompleta e logo depois eu fazia os exercícios. Então matéria estudada era matéria revisada para mim.

Eu fazia resumos, eu usei cadernos para destacar o que era mais importante e eu aprendia mesmo na prática que era fazendo muito exercício – muito mesmo.

Por exemplo, se eu estudasse geometria espacial, que é um conteúdo grande de matemática, eu assistia à aula de cones e fazia todos os exercícios possíveis de cones. Aí depois eu ia para cilindros e assim ia seguindo.

Meu último ano eu fiquei em casa e estudava de 12 a 14 horas. Mas eu estudava o que era realmente importante. Eu fazia muitos exercícios e resolvia provas. Isso mudou muito para mim.

Stoodi: Como era a rua rotina de estudos?

Guilherme Cruz: Eu cheguei a estudar 14 horas por dia. Sei que isso não foi muito bacana, tanto que não me orgulho disso. Mas eu já não aguentava mais ver alguns conteúdos, então eu sabia que nesse último ano eu precisava focar bastante para ver se terminava logo com essa rotina de cursinho.

Eu estudei de 12 a 14 horas em 2016. Eu trabalhava também durante duas horas por dia e era mais uma diversão para mim, um momento que me acalmava um pouco. Fora isso, eu só abaixava a cabeça e estudava.

Stoodi: Você trabalhava com o quê? 

Guilherme Cruz: Eu trabalha com rádio aqui na cidade, eu fazia um programa bem curto das 17h às 19h, que era o tempo que eu parava um pouco de estudar.

Stoodi: Você fazia pausas durante o seu estudos?

Guilherme Cruz: Eu separava meus estudos de uma forma simples: eu estudava 4 matérias por dia com três horários principais que era das 7h30 às 12h00, das 14h às 17h e das 19h30 às 00h.

Das 7h30 às 12h eu não parava. Então eu almoçava e dormia até 13h30 – que me ajudava bastante. Voltava para os estudos às 14h e seguia até às 17h, sem parar.

Quando eu chegava do trabalho eu jantava e tomava banho e umas 19h30 voltava aos estudos – que ia até 00h.

Nesses horários de estudos eu nunca parava. Eu procurava manter o foco, porque se eu parasse eu já me sentia um pouco perdido, não conseguia acompanhar a videoaula, já não estava no mesmo ritmo de exercícios.

Stoodi: Você se surpreendeu com alguma coisa em relação aos estudos? 

Guilherme Cruz: Eu me surpreendi com três coisas.

1. Eu nunca pensei que o cursinho fosse assim. Eu não tinha ideia do quanto uma pessoa conseguiria estudar.

O pior desafio ao longo do cursinho é você não desistir. Não foi aprender trigonometria, números complexos, o que for. O meu maior desafio foi todo dia não desistir porque realmente é uma coisa muito maçante.

Você toma vários “nãos” ao longo do ano, às vezes não aprende o conteúdo. Você não consegue fazer exercícios e isso me deixava muito mal.

2. Eu também descobri que você nunca vai saber tudo – até o segundo ano de cursinho eu pensei que pudesse aprender tudo e só assim eu iria conseguir passar no vestibular. Na verdade, você não precisa saber tudo. Você precisa saber o essencial e um pouco de tudo.

3. Outra coisa é que na hora, se você não mantiver a calma, você não vai conseguir . Não é possível ter 100% de calma na hora do vestibular, mas quando você chega lá é importante você saber que não sabe tudo, mas que a calma é o que vai te diferenciar dos outros.

Nas minhas aprovações eu estava muito calmo. Isso foi essencial para que eu conseguisse esse resultado.

Stoodi: Como você se motivava? 

Guilherme Cruz: Eu fazia uma coisa muito engraçada. Eu procurava imagens no Google de recém-aprovados em Medicina e guardava numa pasta no meu notebook.

Quando eu estava com vontade de parar, de deixar tudo aquilo, eu abria aquela pasta e me imaginava como aquelas pessoas.

Stoodi: O que você tem a dizer para quem vai estudar esse ano?

Guilherme Cruz: Eu acho as pessoas deveriam ter a oportunidade de ver como é bom passar. É um clichê, mas sempre vale a pena. Porque quando você vê o seu nome na lista é uma das coisas mais incríveis da sua vida.

Vale a pena o esforço, só não vale a pena esquecer de tudo: amigos, família e etc. Eu nunca deixei de lado isso. Eu não estudava nos finais de semana e nunca deixei de sair e ir para as festas.

Embora nem tudo que aprendi vá ser importante na minha vida, todo conhecimento muda um pouco de como nós somos e como vemos o mundo. Uma das coisas mais importantes que aprendi na busca por esse sonho, é que o caminho até o conhecimento é tão importante quanto o resultado final.

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.

Stoodi

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