No mundo, um em cada mil fetos pode desenvolver uma patologia congênita caracterizada pela má formação do cérebro. Essa condição é conhecida por anencefalia, palavra cujo significado é ausência de cérebro.
O termo não é usado de forma totalmente correta, uma vez que o feto desenvolve o tronco cerebral, embora o cérebro e a calota craniana (parte de cima do crânio) sejam malformados. Quando a criança sobrevive ao parto, normalmente o prognóstico é ruim, pois a anencefalia compromete funções vitais, como a consciência.
A expectativa é de que o bebê tenha apenas algumas horas ou dias de vida. Por essa razão, a interrupção da gravidez quando a anencefalia é confirmada foi descriminalizada no Brasil desde 2012. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quarto país no mundo com maior incidência de anencefalia, com cerca de três mil casos por ano.
Quer entender um pouco mais sobre essa patologia e saber o que pode ser abordado no Enem e nos principais vestibulares sobre o tema? Então continue a leitura de nosso artigo!
A anencefalia se caracteriza por um defeito no fechamento do tubo neural, estrutura responsável pela formação do sistema nervoso. O feto não desenvolve o encéfalo e nem a calota craniana, e o cerebelo e a meninge são reduzidos. Em grande parte dos casos, o tecido cerebral fica exposto.
Essa malformação compromete partes importantes do cérebro, que são responsáveis pela visão, audição, coordenação de movimentos e pensamento, por exemplo. O grau de lesão pode variar de feto para feto.
O problema pode ser detectado nas primeiras semanas de gestação, normalmente entre o 23° e o 26° dia, por meio de exame de ultrassonografia, cujo diagnóstico é considerado muito confiável.
Se houver dúvidas, exames como a amniocentese, feita com punção de líquido amniótico, e a dosagem de alfa proteína, por meio de análise do sangue, ajudam a confirmar a condição fetal.
Por ser considerada uma patologia incompatível com a vida, muitos médicos e profissionais de saúde aconselham a interrupção da gestação. No entanto, essa decisão cabe à gestante que, em função de suas crenças ou escolhas pessoais, pode optar por ter a criança.
No Brasil, um caso raríssimo de sobrevida de uma criança com anencefalia foi registrado. A bebê Marcela de Jesus Ferreira, de São Paulo, foi diagnosticada com anencefalia e viveu por quase dois anos. Após sua morte em 2008, os exames constataram que, na verdade, ela tinha merocrania, isto é, quando uma membrana protege a parte do cérebro que se desenvolveu.
Vale ressaltar que a gestação de um feto anencéfalo, também apresenta riscos para a mulher. O principal perigo é o excesso de líquido amniótico, pois o feto tem dificuldade para ingeri-lo. Com isso, o útero aumenta de tamanho, perdendo a capacidade de contração após o parto, o trazendo risco de hemorragia para a mulher.
Além disso, em função da malformação do crânio, os fetos normalmente não ficam em posição cefálica, dificultando o parto.
No entanto, quando a gestante opta por não interromper a gestação, o excesso de líquido amniótico pode ser contornado por meio de punção.
A anencefalia atinge principalmente os fetos caucasianos (brancos) do sexo feminino. A causa do problema é a junção de fatores genéticos e ambientais, no primeiro mês de embriogênese.
Mulheres portadoras de diabetes ou que utilizam medicamentos para epilepsia têm maior risco de sofrer esse problema. A exposição a substâncias como chumbo, níquel, mercúrio e cromo também está associada ao aumento do risco.
A idade materna é considerada um outro fator de risco: mulheres muito jovens ou em idade avançada estão mais sujeitas a terem uma gestação na qual o desenvolvimento do tubo neural do feto é comprometido. Além disso, pais que já tiveram uma gestação de bebê anencéfalo têm o risco aumentado em 2,5% a 4%.
A falta de ácido fólico também aumenta as chances desse problema ocorrer. Por isso, as mulheres que desejam engravidar são orientadas a fazer a suplementação, por pelo menos três meses antes da gestação e durante o primeiro trimestre da gravidez. A dose diária recomendada pela OMS é de 0,4 mg.
O uso do suplemento previne não apenas a anencefalia, mas também a espinha bífida. Esse é outro tipo de defeito do tubo neural que ameaça o sistema nervoso, causando complicações como a mielomeningocele, que ocorre quando a medula espinhal fica exposta.
Infelizmente, não existe tratamento médico para a anencefalia, nem quando diagnosticada no início da gestação.
Quando a gravidez não é interrompida, a maior parte dos bebês é natimorta (morrem dentro do útero materno). Para os nascidos vivos, a sobrevida varia de acordo com o comprometimento cerebral, podendo ser de poucas horas até alguns dias — ou mesmo semanas — após o parto.
A anencefalia pode ser um tema abordado no Enem, em vestibulares e em outros concursos de várias maneiras. Afinal, além de envolver conteúdos de biologia e genética, também conta com outros aspectos que podem ser discutidos com diferentes abordagens.
A questão do aborto, por exemplo, é uma das possibilidades. O tema tem estado em evidência na mídia, com a discussão acerca dos direitos femininos e os riscos envolvidos em abortos clandestinos. Como a anencefalia é uma condição em que a interrupção legal da gestação é permitida, o tema pode ser alvo até mesmo da proposta de redação.
Um tema correlato que também pode ser abordado, em função da atualidade, é a microcefalia. Diferente da anencefalia, essa patologia permite que o bebê sobreviva fora do útero, embora com algumas limitações. Nesse caso, as crianças nascem com perímetro cefálico menor. Recentemente, a maior incidência de microcefalia foi relacionada à infecção pelo zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
Por essa razão, é essencial que o candidato conheça as causas, os riscos e demais fatores envolvidos na anencefalia. O conhecimento desses detalhes é fundamental para que a argumentação seja consistente, garantindo o melhor desempenho na prova.
Quer saber mais sobre formação cerebral e sistema nervoso? Continue a visita em nossa página e aproveite para ver como o tema do aborto clandestino foi abordado em algumas provas.
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