Em maio de 2018, o mundo acompanhou pelos jornais, internet e televisão o badalado casamento do príncipe Harry com a atriz Meghan Markle, na capela do São Jorge. A cerimônia foi realizada na Igreja Anglicana, a religião oficial da família real inglesa.
Contudo, a Inglaterra já foi um país católico e passou por transformações durante a Reforma Protestante, no século XVI. Hoje vamos entender o que foi o anglicanismo, as consequências desse evento histórico, o que foi o Ato de Supremacia e como é a presença dessa religião no Brasil. Acompanhe!
A Reforma Anglicana aconteceu na Inglaterra, em 1534 no contexto das reformas religiosas que estavam acontecendo na Europa, durante o século XVI.
Usando como justificativa à negativa da Igreja Católica em conceder o divórcio, o rei Henrique VIII rompeu os laços com o catolicismo e deu início a uma nova religião na Inglaterra. Foi reconhecido como o chefe máximo da igreja inglesa. É conhecida também como Church of England (Igreja da Inglaterra).
Portanto, surge assim, uma nova doutrina fundada pelo rei Henrique VIII
O país com maior proximidades com o Papa era a Espanha, que no século XVI, passou a ser visto como grande potência graças à colonização da América, de onde vinham o ouro, prata e outras riquezas.
O monarca da Inglaterra, Henrique VIII, como a maioria dos reis absolutistas, queria aumentar o poder de seu Estado. Para isso, ele precisava se submeter à Igreja e enfrentar sua potência rival, a Espanha. Para atingir esses objetivos, liderou a reforma religiosa em sua nação e criou uma nova igreja.
O início de tudo aconteceu quando Henrique VIII pediu ao papa Clemente VII a anulação de seu casamento, que já durava 18 anos. A justificativa para o divórcio era que a esposa seria incapaz de gerar um filho homem para o substituir no trono. O rei inglês queria selar um novo matrimônio com a jovem Ana Bolena. O papa se recusou a anular o casamento.
Naquele tempo, os casamentos entre as famílias reais europeias eram arranjados. Eles eram, acima de tudo, alianças políticas. A esposa rejeitada de Henrique VIII era Catarina de Aragão, tia do rei espanhol, Carlos V, católico e muito próximo do papa.
Finalmente, Henrique VIII reagiu. Separou-se de Catarina, casou-se com Ana Bolena, que já estava grávida de quatro meses, e assumiu o controle de todas as terras e bens da Igreja Católica na Inglaterra. Com apoio do parlamento, por meio do Ato de Supremacia, de 1534, o rei criou a Igreja Anglicana. O anglicanismo passou a ser a religião oficial do povo inglês.
A Inglaterra reconheceu duas reformas religiosas: a anglicana, que era a religião oficial e, em menor escala, o calvinismo, que ganhou adeptos entre camponeses e artesãos. No mesmo ano, o papa anulou o novo casamento e excomungou o monarca inglês.
A Igreja anglicana conservou a doutrina católica, com algumas alterações. O clero inglês passou a ser visto como aliado do rei. Isso motivou uma série de conflitos entre anglicanos (aliados do rei) e os puritanos (calvinistas ingleses). Nos anos seguintes, os puritanos emigraram em massa para a América do Norte.
Por ironia do destino, Henrique VIII acabou não conseguindo um herdeiro homem. Ana Bolena, sua antiga esposa, deu à luz a rainha Elizabeth I, famosa por exercer um dos reinados mais notáveis da Inglaterra.
Como vimos, o reconhecimento da religião anglicana como oficial se deu por meio do Ato de Supremacia, em 1534. Um problema a ser resolvido por Henrique VIII era a escolha de um líder supremo da sua igreja. O parlamento inglês reconheceu, com esse ato, o rei inglês como o único chefe supremo da Igreja da Inglaterra.
Anos mais tarde, em 1559, o Ato de Supremacia foi revogado por Isabel I, filha católica de Henrique VIII. De acordo com a nova lei, todo inglês que ingressasse no serviço público ou na igreja, deveria jurar fidelidade ao rei como chefe da igreja e de sua nação. Recusar fazer esse juramento poderia ser considerado traição grave e ser severamente punido.
Thomas More, criador da obra Utopia, foi um dos católicos que se recusou a jurar fidelidade. Como pena, foi preso e decapitado.
Com a oficialização da igreja anglicana, o rei Henrique VIII confiscou as terras da Igreja católica e ampliou o seu poder. A reforma anglicana representou uma ruptura muito mais política do que religiosa. A doutrina e os ritos anglicanos são muito parecidos aos do catolicismo, além da hierarquia do clero ser mantida.
Por ter semelhanças com a Igreja Católica, o anglicanismo é considerado o movimento menos protestante de todos. Cerca de 21% dos ingleses se declaram anglicanos, seguido por 20% de fiéis católicos.
Com as reformas calvinista e luteranas, o anglicanismo provocou o movimento de contrarreforma pelos católicos. Foi graças ao Ato de Supremacia que as leis da igreja deixaram de estar acima das leis do Estado.
O anglicanismo chegou ao Brasil, em 1805, quando Henry Martin, em uma viagem à Índia, ficou no Brasil por duas semanas. Na ocasião ele conversou com padres, mas foi impedido do converter brasileiros por conta da legislação.
Em 1810, com o assinatura do Tratado de Comércio e Navegação, entre Inglaterra e Portugal, foi permitido a construção de templos anglicanos no Brasil. Os prédios não poderiam ter aparência de igrejas, foram proibidos sinos e torres. Além disso, os anglicanos não podiam buscar a conversão de católicos.
A primeira igreja anglicana foi construída no Rio de Janeiro, em 1819. Atualmente, há 87 igrejas no Brasil e um número aproximado de 120 mil fiéis.
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