Você já conversou com uma pessoa de mais idade e que costumava conviver em meio à natureza? Se sim, é bem provável que tenha escutado ela dizer que, de certa forma, a floresta fala com aqueles que nela vivem. Essa é uma das ideias de Mayombe, de Pepetela, uma obra diferente de tudo que você já leu.
Mayombe é o nome de umafloresta— ou, mais precisamente, de uma região — africana, que inclui territórios de vários países, entre eles Angola e Congo. Esse é o cenário para a ocorrência de uma das partes da luta pela Independência Angolana, tema central da narrativa de Pepetela.
Essa é, portanto, uma obra importantíssima para sabermos mais sobre esse evento histórico e, claro, para as provas da Fuvest! Mayombe faz parte das leituras obrigatórias para o vestibular da USP e, a seguir, você saberá tudo sobre o livro em uma análise completa. Boa leitura!
Como se dá a luta de um povo que muitas vezes não tem voz? A proposta de Mayombe é justamente esta: narrar uma história por muitos ignorada, mas com fundamental importância para a libertação dos povos africanos. Essa é uma das belezas da Literatura!
Mayombe nos conta a história de vários personagens que integravam as tropas angolanas contra Portugal. Aqui, o objetivo de Pepetela é fazer com que cada “tipo” participante da luta fosse representado.
Angola era composta por muitas tribos, muitas delas rivais. Cada uma tinha seu próprio idioma, seus costumes e modo de vida. Quando unidas, isso gerou uma certa tensão interna, ainda que todos estivessem lutando por um objetivo em comum.
Esse aspecto é muito bem explorado na obra, enquanto navegamos pelo íntimo de cada personagem. Tudo isso, é claro, tendo um personagem principal: a própria floresta do Mayombe, que, como em O cortiço, por vezes aparece como um organismo vivo e dotado de decisões e sentimentos.
Observação: além da participação da floresta em todo o enredo, outro personagem oculto é muito importante: o idioma português. Foi por meio dele que as tropas — vindas de tribos diferentes, com linguagens diversas — se comunicaram e conseguiram alcançar seus objetivos.
É difícil fazer um resumo de Mayombe. Ele é um livro que conta, ao longo de suas páginas, a história do amadurecimento da luta armada de Angola contra Portugal. Para isso, o autor dá a voz, a cada capítulo, a uma personagem diferente, permitindo que ela conte o seu ponto de vista sob os fatos e nos dê um pouco de sua história no processo.
Sendo assim, temos a presença de vários narradores-personagens. Em suas falas, caminhamos linearmente na história, mas também voltamos bastante no tempo para compreender os acontecimentos da vida de cada um deles.
Os personagens também são fundamentais para que possamos adentrar os diferentes detalhes sobre a organização militar do grupo, já que cada um deles tem uma função e participação únicas. Esse é, portanto, um relato rico sobre um período importante da história mundial.
O contexto histórico de Mayombe reside na luta de Angola contra o domínio português. Naquele momento, Salazar era o ditador de Portugal e gerava opressões ainda mais incisivas sobre o povo angolano.
Por conta disso, é interessante observar que havia até mesmo portugueses combatendo ao lado dos angolanos contra o domínio português. Esse foi um evento bastante singular e marcado pela miscigenação das tropas.
Mundialmente, o contexto é marcado pela ocorrência da Guerra Fria.
Confira, a seguir, alguns dos principais personagens dessa obra:
Há, ainda, muitos outros personagens de guerrilheiros, como Lutamos, Verdade e Mundo Novo. Cada um tem suas características, e você perceberá todas essas nuances com a leitura da obra!
Como mencionado, o foco narrativo da obra muda a cada capítulo, trocando de narrador. No entanto, é sempre narrado em primeira pessoa. Essa é uma das características do romance pós-modernista.
Outra característica forte da obra é a presença de muitos diálogos, o que faz com que cada narração se torne, também, uma união de diferentes narradores.
Não podemos deixar de falar, também, sobre os aspectos geográficos dessa floresta. Esse é um tipo de conteúdo que pode facilmente ser cobrado em uma questão interdisciplinar!
A floresta do Mayombe tem como principais características:
De certo modo, é possível dizer que ela é bastante parecida, em características, com a nossa Floresta Amazônica. Outro ponto importante é saber que ela está localizada separada do território de Angola (mais ou menos como acontece com o Alasca e os Estados Unidos).
Pepetela (apelido de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em 1941, em Angola. Ele é filho de mãe angolana e pai de origem portuguesa. É, portanto, de uma das divisões mencionadas em seu próprio livro, a do mestiço, que não se encaixava em lugar algum.
Formou-se em Letras e viveu a juventude em pleno período da ditadura de Salazar. Chegou a ser convocado para a luta armada e atuou, também, como jornalista durante esse período, registrando os eventos que se desenrolavam a partir de uma visão privilegiada.
Pouco depois, Pepetela se tornou professor em uma das mais prestigiadas universidades angolanas e chegou a receber muitas premiações por sua obra literária e jornalística.
Confira, agora, um exemplo de como Mayombe pode ser cobrado em vestibulares e se prepare para as provas!
(Fuvest 2017) O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição.
Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam.
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida.
Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde.
(Pepetela, Mayombe)
Considerando-se o excerto no contexto de Mayombe, os paralelos que nele são estabelecidos entre aspectos da natureza e da vida humana podem ser interpretados como uma
a) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem Medo e a seu dilema característico entre a valorização do indivíduo e o engajamento em um projeto eminentemente coletivo.
b) caracterização flagrante da dificuldade de aceder ao plano do raciocínio abstrato, típica da atitude pragmática do militante revolucionário.
c) figuração da harmonia que reina no mundo natural, em contraste com as dissensões que caracterizam as relações humanas, notadamente nas zonas urbanizadas.
d) representação do juízo do Comissário a respeito da manifesta incapacidade que tem o Comandante Sem Medo de ultrapassar o dogmatismo doutrinário.
e) crítica esclarecida à mentalidade animista que tende a personificar os elementos da natureza e ao tribalismo, ainda muito difundidos entre os guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Resposta: A
E aí, acertou a questão? Se não, não se preocupe: é com os erros que aprendemos e construímos nosso conhecimento! Para otimizar ainda mais seus estudos, confira o Cronograma de Estudos Stoodi, que conta com aulas exclusivas de Literatura e todas as matérias do vestibular. Estamos aqui para ajudá-lo a conquistar sua vaga!
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