Muito provavelmente, você já deve ter visto em algum filme, documentário ou programa de investigação em aeroportos, a apreensão de pessoas tentando realizar tráfico de drogas nacional ou internacional.
Ao serem descobertas, a equipe policial apreende todo o material suspeito de ser alguma droga ilícita e o leva à equipe de perícia científica, a qual realiza o famoso teste de Scott para verificação da composição química do material suspeito.
Para saber mais sobre como a cocaína é detectada nesses casos e, ainda, qual a relação desse teste com o “galinho do tempo”, continue o artigo e entenda tudo!
O teste de Scott foi desenvolvido por L. J. Scott Jr. em 1973 para detectar cocaína ou cloridrato de cocaína através de uma reação química com o composto tiocianato de cobalto. O teste, posteriormente, foi aprimorado por Fasanello e Higgins para a detecção da droga crack.
O teste de Fasanello e Higgins, ou teste de Scott modificado, serve para a detecção da cocaína em sua forma base, mais conhecida como crack, ou forma não-ácida, ou em sua forma como cloridrato de cocaína (ou simplesmente cocaína). A figura 1 ilustra o equilíbrio químico de conversão do crack em cocaína pela adição de prótons (H+), em meio ácido.
Figura 1.: Equilíbrio químico entre base cocaína (crack) e cocaína
Fonte: HADDOUB, R. et al. Cobalt thiocyanate reagent revisited for cocaine identification on TLC. New J. Chem., 2011, 35, 1351-1354. Onde “Me” refere-se ao radical “metil” (-CH3)
Qualquer uma dessas moléculas serve para reagir com o tiocianato de cobalto (Co(SCN)2), de coloração rósea, e formar um complexo de Cobalto (II) que assume coloração azul. A figura 2 ilustra a reação, de forma simplificada, que ocorre entre a cocaína e o tiocianato de cobalto. A figura 3, por sua vez, mostra fórmula estrutural da molécula complexada que apresenta coloração azul, isto é, a molécula final após a reação.
Figura 2.: Reação de equilíbrio químico entre o tiocianato de cobalto e a cocaína.
Fonte: CONCEIÇÃO, V. N. et al. Estudo do teste de Scott via técnicas espectroscópicas: um método alternativo para diferenciar cloridrato de cocaína e seus adulterantes. Química Nova, 2014, 37, 9. Onde “B” se refere à cocaína ou crack.
Figura 3.: Estrutura molecular do composto resultante de coloração azul da reação entre tiocianato de cobalto e cocaína.
Fonte: HADDOUB, R. et al. Cobalt thiocyanate reagent revisited for cocaine identification on TLC. New J. Chem., 2011, 35, 1351-1354
Como mencionado, peritos criminais e especialistas em química forense realizam este teste com pequenas amostras que, ao assumirem coloração azulada, indicam e comprovam a presença de crack ou cocaína no material apreendido. A figura 4 ilustra um exemplo do teste.
Figura 4.: Tubo de ensaio contendo reagentes e produto final da reação entre tiocianato de cobalto e cocaína
Fonte: CAMARGOS, A. C, da F. Química Forense: Análise de Substâncias Apreendidas. Universidade Federal de São João del-Rei, Departamento de Ciências Naturais, Brasil, 2018.
O interessante é que existe uma reação muito parecida e que também está relacionada com a mudança para a coloração azul e também possui o elemento Cobalto em sua composição: é a reação do “galinho do tempo”.
Geralmente na casa dos nossos avós, havia o famoso “galinho do tempo” que indicava se choveria ou não nos próximos dias (ou até no mesmo dia), por conta da mudança de sua coloração.
A reação química por trás desse fenômeno envolve a presença de um sal de cobalto que, em função da umidade relativa do ar, se converte para um composto que muda de coloração. A figura 5 mostra a reação química do “galinho do tempo”.
Figura 5.: Esquema de mudança de coloração do “galinho do tempo” e reação química responsável pelo fenômeno
Pela reação, é possível observar que, por se tratar de uma reação reversível e de equilíbrio químico, a mudança da umidade do ar acaba por alterar o equilíbrio químico, resultando na ação do princípio de Le Chatelier, deslocando o equilíbrio para a formação da uma ou outra substância.
Em casos de baixa umidade relativa do ar, o “galinho” assume coloração “AZUL”, o cloreto de cobalto, fica menos hidratado, por conta da falta de umidade, e moléculas de água são produzidas a fim de compensar o clima seco e de baixa umidade.
No entanto, quando a umidade do ar está alta, o cloreto de cobalto di-hidratado (CoCl2(H2O)) se converte em um composto complexo de coloração rosa (Cl2], indicando que haverá chuva no mesmo dia, ou próximos dias.
É interessante observar como há uma semelhança entre esta reação e a reação do tiocianato de cobalto para a detecção de cocaína, elas possuem princípios de ação e mudanças de coloração semelhantes. A química está aí, basta abrir os olhos e a mente curiosa para ver como ela pode ajudar a compreender um pouquinho da beleza da natureza que nos cerca.
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Este conteúdo foi produzido pelo professor Kleber, de Química.
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