A pandemia provocada pela COVID-19 espalhou as consequências do vírus para milhões de pessoas em todo o mundo, entre doentes, infectados e aqueles que foram fatalmente atingidos.
Essas consequências atingem várias dimensões da sociedade: sobrecarregam sistemas de saúde, restringem ou confinam a circulação de milhões de pessoas, paralisam atividades econômicas, mudam a rotina de áreas urbanas e rurais.
A proliferação do número de infectados por todo o mundo tem fortes vínculos com a globalização: fluxos cada vez mais intensos e rápidos de mercadorias, pessoas e serviços entre diferentes regiões do planeta.
Além disso, a intensidade e a extensão das transformações humanas no meio natural são outros elementos que fazem parte desse contexto pandêmico.
A COVID-19 não é a única pandemia registrada desde que a globalização como conhecemos começou a tomar forma, após a Segunda Guerra Mundial. É possível, por isso, fazer um paralelo as pandemias e os processos de integração que podem ser observados na segunda metade do século XX.
De acordo com as informações da Organização Mundial da saúde (OMS), uma pandemia é quando há a disseminação de uma doença pelo mundo todo.
Isso ocorre quando, em uma epidemia (surto de uma doença em uma determinada região), é proliferado para diferentes continentes de pessoa para pessoa.
É interessante saber que alguns critérios foram e ainda são utilizados para se definir o que é uma pandemia: transmissão de animais para seres humanos, surtos derivados da transmissão entre pessoas e a transmissão sustentada envolvendo vários países.
Alguns anos após o fim da Segunda Guerra, o sudeste asiático vivia situações políticas e econômicas bastante diversas: as Coréias estavam separadas entre capitalistas e socialistas após um conflito de três anos.
O Japão estava em vigorosa recuperação econômica, influenciada pelos efeitos do Plano Colombo e do sistema toyotista. Já a China completava sua primeira década como uma república sob a influência socialista.
O arquipélago de Hong Kong, um protetorado britânico na época (de 1841 até 1997), foi o palco de uma pandemia provocada pelo H2N2, a Gripe Asiática.
Originada no sudoeste chinês, espalhou-se por outras partes da Ásia, como em Taiwan e Cingapura, e depois atingiu outras partes do mundo. Estima-se que até 1 milhão de pessoas tenham sido fatalmente atingidas entre 1957 e 1959.
As relações comerciais e o fluxo intenso de pessoas – a negócios e a turismo, por exemplo – fizeram o vírus chegar rapidamente ao Reino Unido e aos Estados Unidos. Isso provocou alguns efeitos econômicos de curta duração no segundo semestre de 1957.
A década de 1960 foi, para Hong Kong, um período de incremento do seu parque industrial. A atração de mão-de-obra mais barata vinda de outras partes do sudeste asiático, o embargo dos EUA sobre a economia chinesa e as políticas para atrair investimentos estrangeiros fizeram dessas ilhas uma das regiões de maior dinamismo comercial no mundo.
Mesmo sendo parte daqueles que passaram a ser chamados de velhos Tigres Asiáticos (juntamente com Cingapura, Taiwan e Coreia do Sul), um novo surto, dessa vez de H3N2, interrompeu por algum tempo a prosperidade econômica.
Entre o meio de 1968 e o fim de 1969, o vírus se espalhou por países vizinhos e atingiu outros continentes, chegando em uma fase de transmissão sustentada. Estima-se em 60 mil o número de mortes por conta dessa pandemia.
Entre o início dos 1960 e a metade dos anos 1970, a cólera, doença provocada por uma bactéria, atingiu vários países em desenvolvimento.
Com transmissão atingindo o Brasil de forma massiva nos anos 1990, a cólera refletiu a falta de condições de saneamento básico adequadas para a maioria da população.
As disparidades socioeconômicas entre os mais ricos e mais empobrecidos, as crises econômicas dos anos 1970 e 1980 e o endividamento externo inibiram políticas públicas mais inclusivas para aumentar o acesso à água potável e coleta de esgoto, especialmente nas áreas urbanas.
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS, em inglês) surgiu no início dos anos 1980. O fato de ser uma doença sexualmente transmissível (DST) chamou a atenção para alguns fatores, mais especificamente o contato sexual sem proteção.
Estimativas indicam que quase 40 milhões de pessoas estejam infectadas, sendo cerca de 70% no continente africano. A falta de políticas públicas consistentes, de acesso à medicamentos, métodos preventivos e educação sexual acessíveis para todos, acaba por agravar a situação nas nações mais empobrecidas.
O Brasil quebrou, em 2001, as patentes sobre medicamentos para tratar a AIDS, devido ao alto custo de compra em laboratórios multinacionais.
Isso permitiu a queda do valor de produção para disponibilizar tratamento via SUS, mas fez parte de um amplo debate a respeito das regras de comércio internacional na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Possivelmente surgida em uma área de criação intensiva de porcos no México, a gripe suína, que iniciou seu processo de disseminação no início de 2009, rapidamente ganhou status de pandemia.
A paralisação de atividades econômicas, o fechamento de escolas e as restrições para viagens internacionais foram algumas das consequências sentidas em vários países. No mesmo ano, o desenvolvimento de medicamentos e vacinas permitiu uma solução relativamente rápida para o fim da pandemia, em 2010.
Em um mundo globalizado, a COVID-19 atingiu em cheio as dinâmicas sociais e econômicas em todo o mundo. Para inibir a disseminação do vírus, medidas de distanciamento social foram adotadas.
Entretanto, esse processo acarretou a redução de atividades humanas, como a circulação de pessoas e o trabalho. No setor aéreo, por exemplo, a quantidade de voos foi reduzida em cerca de 70%.
Muitos países têm adotado políticas econômicas de auxílio financeiro para as suas populações, que se encontram impedidas de sair de casa. De modo geral, o mundo foi obrigado a “reduzir o seu ritmo”.
Por outro lado, esse freio trouxe alguns aspectos positivos: com menos emissões, a poluição atmosférica de indústrias e dos automóveis reduziu-se drasticamente; animais selvagens voltam a aparecer em cidades; atividades econômicas de elevado impacto ambiental, como a mineração, estão precisando diminuir a produção.
Embora não seja a primeira, essa pandemia trouxe impactos ainda não observados em outros momentos da história recente.
Por isso, países e sociedades estão passando por um momento de redefinição dos fluxos econômicos, do aumento da importância das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e da necessidade de sincronizar políticas econômicas e sociais que se tornem políticas públicas capazes de reduzir a disseminação dos impactos da pandemia em um país para outros.
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*Este texto foi produzido pelo nosso professor de Geografia, o Érico Cândido. Saiba mais sobre o nosso professor aqui!
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