Volta e meia encontramos diversas pessoas conversando sobre temas como feminismo, igualdade de gênero, machismo e os desafios cotidianos de ser mulher. Esse tipo de assunto também está cada vez mais presente nos vestibulares e concursos atuais. Em 2018, a prova do Enem contou com diversas questões sobre sociedade e machismo, trazendo temas como o feminismo no Brasil e suas vertentes históricas.
Assim, compreender o que é esse movimento e como ele contribui para a construção de uma sociedade justa e igualitária é fundamental para mandar bem nos vestibulares.
Pensando nisso, desenvolvemos este guia prático e completo para explicar o que é feminismo, suas bases teóricas e históricas, o que é ser feminista e como o tema pode aparecer nas grandes provas. Boa leitura!
Feminismo é o movimento que busca a igualdade e equidade entre os gêneros, desenvolvendo-se como uma estratégia filosófica, política e social que luta pelos direitos das mulheres.
No entanto, para entender o conceito, é preciso retomar alguns dados históricos. Ao longo da consolidação das nações e do capitalismo, o homem foi ganhando um espaço de destaque na sociedade, tornando-se o grande responsável pelas famílias, empresas e indústrias.
Nesse sentido, as mulheres ocupavam cargos de menos destaque, cuidando das casas e filhos e, às vezes, desenvolvendo determinado trabalho informal, como artesanato, principalmente as famílias mais pobres. Assim, o mundo começou a crescer pautado em um sistema patriarcal, isto é, dando mais visibilidade para o homem.
Isso fez com que o sexo masculino tivesse mais oportunidades em relação a emprego, política, cultura, entretenimento, autonomia e segurança, enquanto as mulheres tinham menos privilégios por serem consideradas um “sexo frágil”.
Mas, então, como hoje algumas sociedades já apresentam direitos iguais entre os gêneros, oportunidades similares de trabalho para ambos os sexos? Em função das conquistas feministas que se estruturaram ao longo da história e duram até hoje.
É assim que o feminismo atua. É um movimento que trabalha com filosofias, histórias, políticas, marcações territoriais e culturais para aproximar os direitos das mulheres aos dos homens nas mais variadas questões: desde saúde até trabalho e segurança pública.
No início deste artigo, comentamos que não podemos falar sobre feminismo sem abordar conceitos históricos, não é mesmo? Afinal, as lutas de hoje só existem em função da construção e consolidação do movimento que ocorreu ao longo da história das mulheres.
Até o final do século XIX, não era permitido o estudo, voto, leitura e escrita pelas mulheres, isto é, as possibilidades de trabalho e entretenimento eram restritas, sobrando poucas atividades para serem realizadas no dia a dia. Além disso, não existia a possibilidade de conhecer o mundo da política e economia, tão presente na era industrial.
Um grande exemplo da diferenciação entre gêneros foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, divulgada durante a Revolução Francesa. Nela, afirmou-se que os direitos básicos dos cidadãos eram restritos aos homens.
Como uma forma de combatê-lo, Olympe de Gouges desenvolveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, trazendo à tona a importância das mulheres na política e economia, bem como revelando discussões sobre igualdade de direitos.
Foi, então, no final do século XIX e início do século XX que o movimento ganhou força mundial, sobretudo na Inglaterra e Estados Unidos. Nesse período, a luta girava em torno da igualdade de condições de trabalho nas indústrias, em prol da conquista de salários e cargas de trabalho idênticas.
Ainda, nos Estados Unidos, o movimento das trabalhadoras industriais ganhou forças e tomou outras proporções, evidenciando a necessidade da inclusão das mulheres na política por meio dos votos. Esse período ficou conhecido como sufragista, tendo como destaque as figuras Emmeline Pankhurst e Emily Davison.
Com o passar dos anos, as mulheres foram conquistando o seu espaço e trazendo para debate temas como igualdade salarial, direito à educação, à propriedade, ao divórcio e aos métodos contraceptivos.
Ao se aprofundar na história do movimento, é muito comum encontrar termos diferentes como feminismo radical, feminismo liberal e ondas do feminismo. Isso acontece em função dos diversos marcos históricos que a luta teve.
Com a consolidação do capitalismo e o crescimento da desigualdade de gênero, as demandas das mulheres se tornaram diferentes. Afinal, a luta de uma mulher burguesa não era a mesma de uma mulher da periferia, assim como o combate contra o machismo não é o mesmo nos Estados Unidos e na França.
Isso quer dizer que, em cada canto do mundo, diferentes histórias começaram a se desenvolver, dando base para a criação de várias vertentes do feminismo — que explicaremos um pouco mais à frente.
Para esclarecer como o movimento surgiu e quais foram seus principais marcos, a academia desenvolveu conceitos para nomear cada era do feminismo, separando por data e objetivo de luta. Assim, essas eras foram chamadas de ondas e são estudadas até hoje.
Abaixo, explicamos cada uma delas para você!
A primeira onda teve início no final do século XIX e durou até meados do século XX. Nesse período, a reivindicação era pelos direitos básicos das mulheres, como o voto, a educação, a vida pública e privada e a abolição da escravatura feminina.
Além disso, um questionamento muito comum era sobre a imposição dos papéis submissos e a passividade feminina.
Já a segunda onda do feminismo teve início na metade dos anos 50 até meados de 90, sendo mais ativa entre a década de 60 e 70. Por apresentar temas polêmicos como sexualidade, pornografia e direitos reprodutivos, esse período ficou conhecido como feminismo radical, dando base para a sua vertente contemporânea.
É, então, por meio da divulgação desses assuntos que a distinção entre sexo e gênero começa a ser conceituada, dando origem a novas discussões sobre os papéis de gênero, identidade e orientação sexual.
Além disso, a segunda onda trouxe à tona a discussão teórica sobre a opressão das estruturas sociais, interligando raça, gênero, etnia e classe social às relações de poder e às instituições.
Por fim, a terceira onda do feminismo foi marcada pelas mudanças ocidentais dos anos 90, como o fim da União Soviética, a queda do muro de Berlim, a dissolução das ditaduras da América Latina, o surgimento do neoliberalismo, assim como o crescimento econômico e cultural dos Estados Unidos e as evoluções tecnológicas.
Nesse sentido, ela tomou como tema principal a presença da mulher na cultura e entretenimento, sem deixar de lado os assuntos levantados na segunda onda — gênero e sexualidade.
Dessa maneira, as mulheres utilizavam os meios de comunicação para abordar temas como estupro, empoderamento feminino e patriarcado. Além disso, esse período ficou marcado pelo surgimento do feminismo interseccional.
Ao longo deste artigo, comentamos muito sobre o surgimento de diversas vertentes do movimento. Mas, afinal, o que elas são? Para responder a essa pergunta, é preciso retomar, novamente, à história do feminismo.
Ao longo da sua consolidação, o feminismo apontou diversas discussões importantes de serem feitas pela sociedade. Acontece que, como existe uma pluralidade muito grande no mundo, cada país, com a sua cultura e história, trouxe novas pautas a serem debatidas.
Esses assuntos foram sendo organizados de acordo com as demandas específicas de cada grupo feminista, como o feminismo negro, transgênero, radical, liberal e interseccional. Cada um deles luta por causas próprias, mantendo um objetivo em comum: conquistar a igualdade entre os gêneros.
Mas, então, por que é necessário dividir os feminismos, se há sempre o mesmo objetivo? É simples: uma mulher transgênero não apresenta os mesmos direitos do que uma cisgênero (aquela que se identifica com o seu gênero de nascença), por exemplo, necessitando de uma luta ainda maior para conquistar a sua igualdade.
Dessa forma, ao dividir as pautas, as mulheres encontram mais forças para alcançar a equidade, tornando o movimento justo e potente. Para facilitar a compreensão, separamos as duas principais vertentes do feminismo abaixo. Confira!
O feminismo liberal está diretamente relacionado à primeira onda, que parte dos ideais liberais para montar o movimento. Nesse sentido, a luta é pela inserção das mulheres na política e economia.
No entanto, ele é alvo de muitas críticas atualmente, justamente por seguir o modelo liberal que sustenta ideais individualistas e de classe social. Em outras palavras, as mulheres feministas liberais acreditam que, se cada uma mudar a sua forma de pensar, combaterá o machismo com facilidade.
Já o feminismo radical acredita que é necessária uma ação em conjunto para lutar contra o machismo. No entanto, ele vai além e afirma que as opressões surgem do alinhamento das questões culturais e sociais com o fato de se nascer mulher.
Esse pensamento dá base para a luta da abolição dos gêneros, eliminando por completo os estereótipos de feminino e masculino, como roupas, ações e cores específicas para cada gênero.
Um dos assuntos mais comentados atualmente sobre o feminismo é a sua não oposição ao machismo. Como falamos no início, ele simplesmente se refere ao movimento social pela igualdade entre os gêneros.
Dessa forma, como ele poderia ser o oposto do machismo, isto é, considerar as mulheres superiores aos homens? Tenha em mente que o feminismo é um movimento político, filosófico, teórico e social organizado, que tem como base a luta contra o machismo e suas opressões.
Acontece que existe sim um conceito que é o oposto do machismo, chamado de femismo, que prega a ideologia de superioridade feminina, fazendo com que a construção da sociedade seja hierárquica por meio do gênero sexual.
Aqui, vale lembrar que femismo não é sinônimo de feminismo radical. Muitas vezes, confundimos os dois conceitos ao compreender que o radical se refere a atitudes extremas e agressivas, sendo que, na verdade, seu sentido refere-se à raiz social.
Para evitar confusões durante o vestibular — principalmente nas redações — procure manter em mente as principais pautas do feminismo radical, assim como do movimento como um todo.
No Brasil, a consolidação do movimento não foi diferente. Durante o século XIX, a luta iniciou-se pelos direitos da educação feminina, do voto e, principalmente, da abolição da escravidão.
No entanto, foi somente entre as décadas de 1930 e 1940 que ele começou a se tornar expressivo, diminuindo o regime patriarcal e inserindo as mulheres no mercado de trabalho.
Com o passar do tempo, as feministas trouxeram diversas conquistas para toda a população, garantindo o voto obrigatório para todos e o direito à educação — tanto básica quanto superior.
Ainda, depois de diversas polêmicas sobre feminicídios e agressão contra as mulheres, a posição da mulher brasileira na sociedade ainda precisa ser discutida, apesar de haver conquistas, como a instituição da Lei Maria da Penha, que prevê proteção contra a violência doméstica e familiar.
Embora muito tenha sido desenvolvido com a luta feminina, ainda existem muitos desafios a serem ultrapassados para garantir direitos iguais entre os gêneros. Um dos mais presentes hoje em dia é a violência contra a mulher, sobretudo nas famílias e nos relacionamentos.
E mais, o mercado de trabalho ainda apresenta disparidades nos cargos e remunerações, tanto no mundo artístico quanto no empresarial. Em outras palavras, existem casos em que as mulheres trabalham tanto quanto os homens e recebem menos, evidenciando a desigualdade entre gêneros.
Uma das formas atuais de divulgar os ideais do movimento é por meio de frases feministas, principalmente nas grandes redes sociais. Abaixo, separamos as principais para você dar uma olhada e manter em mente, podendo até incluir na sua redação do vestibular, caso necessário.
Não se pode falar em feminismo sem comentar sobre Simone de Beauvoir, afinal, ela foi um dos maiores símbolos feministas na história do movimento. Autora do livro O segundo sexo, a francesa quebrou a ideia de que a hierarquização dos sexos era algo biológico, introduzindo os conceitos de construção social e regime patriarcal.
Dessa forma, ela defendia que as opressões sofridas pelas mulheres eram, na verdade, fruto de uma construção social baseada nos regimes patriarcais, transformando a concepção do que é ser mulher na década de 1960.
Compreender o que é feminismo não é tarefa fácil. Afinal, existem diversas vertentes, conceitos e teorias sobre o movimento. No entanto, com um pouco de estudo é possível aprender suas bases teóricas e sociais e entender a sua aplicação na contemporaneidade.
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