Tudo sobre a Revolução Mexicana – Stoodi
Entre os anos de 1821 e 1850, o México teve nada mais, nada menos do que cinquenta governos ditatoriais diferentes. A política dos países da América Latina durante o século XIX era muito instável e não havia consenso nem mesmo entre as elites. Essa dificuldade em manter uma coesão de governo junto às mazelas que o povo sofria culminou, no início do século XX, na Revolução Mexicana.
A Revolução Mexicana foi um movimento político que teve início em 1910 com três grupos de ideologias distintas, mas que lutavam por interesses comuns. As lideranças socialistas, liberalistas e anarquistas almejavam a distribuição de terras através de uma reforma agrária, a nacionalização das empresas multinacionais e a reforma eleitoral. A miséria, a corrupção e a falta de sistema de ensino eram alguns dos problemas enfrentados.
Em certa medida, podemos dizer que os objetivos dessa revolução foram atingidos de alguma forma, apesar do recuo de algumas propostas após a efetivação da revolução. Podemos dizer, também, que toda essa agitação na política mexicana tinha características populistas, uma vez que os líderes dessa revolução disputavam a hegemonia sobre as massas com propostas de reformas e melhorias sociais.
Entre os anos de 1876 a 1911 (mais de 30 anos!), o México viveu sob o governo ditatorial de Porfírio Díaz. Esse período, conhecido como “ditadura porfirista”, foi marcado por grandes propriedades de terras, os latifúndios, e por pouquíssima liberdade democrática. Porfírio se manteve tanto tempo no poder graças à uma série de fraudes eleitorais e de muita corrupção.
Enquanto isso, na vida cotidiana do povo mexicano as coisas não iam muito bem. Para se ter uma ideia, mais de 70% de toda a população era analfabeta. Com a Lei dos Baldios (1893 – 1902), o governo passou a tomar as terras de propriedades indígenas e as repassou aos latifundiários, a essa altura, quase todos estrangeiros. Ou seja, Porfírio Díaz podia, legalmente, tomar as propriedades dos nativos e doá-las aos investidores de outros países.
A política da ditadura porfirista visou a entrada do capital norte-americano e europeu em detrimento do empobrecimento e das dificuldades dos mexicanos. Essa atitude provocou ódio entre os camponeses e gerou uma pressão por parte dos mais pobres, por parte da igreja e até de parte da elite política e econômica. Pressionado e com dificuldades em governar, Porfírio renunciou ao cargo, em 1910.
Com o apoio das classes populares, principalmente dos líderes revolucionários Emiliano Zapata e Pancho Villa, e, também, do Exército, o líder da elite Francisco Madero assumiu o poder no México, em 1911. Madero conquistou o povo mexicano através de promessas populistas de reformas sociais e agrária, dando destaque à redistribuição dos latifúndios.
As promessas de Madero não foram cumpridas integralmente, agravando ainda mais a situação precária dos camponeses. Foi então que os líderes camponeses Zapata e Villa iniciaram novas lutas contra Madero, conseguindo tirá-lo do poder e dando seguimento ao processo revolucionário.
Emiliano Zapata e Pancho Villa se opuseram aos governos sucessores de Madero. O primeiro foi Victoriano Huerta e, por último, Venustiano Carranza, todos por não cumprirem as promessas de reforma agrária e melhorias sociais.
Em 1917, Carranza chegou ao cargo de presidente e continuou gerando descontentamentos ao povo mexicano. Com a morte de Emiliano Zapata, em 1919, e Pancho Villa, em 1923, ambas tramadas com a ajuda dos Estados Unidos, o movimento revolucionário perdeu forças e deu lugar a entrada dos investimentos estrangeiros no país.
O presidente Venustiano Carranza conseguiu aprovar, em 1917, a nova Constituição do México que trouxe uma outra estrutura social. Entre os ganhos, a Constituição previa o direito do Estado de expropriar latifúndios caso fosse de interesse público e os índios tiveram alguns direitos reconhecidos.
A criação de um salário mínimo e a redução na jornada de trabalho para 8 horas diárias deram esperanças aos camponeses. A criação de um Estado laico, isso é, a separação entre Igreja e Estado, colocou fim aos benefícios concedidos à igreja.
A Revolução Mexicana, apesar de não ter sido efetivada em todos os seus objetivos, trouxe benefícios à sua população. O país vive, até hoje, situações sociais e econômicas difíceis, a reforma agrária aconteceu, mas não foi suficiente para acabar com as desigualdades e tratar os indígenas de uma maneira mais digna.
A dificuldade em produzir em larga escala para competir com os preços internacionais e o endividamento da nação ainda são barreiras a serem superadas pelos mexicanos. A luta por terras no México, assim como em diversos países da América Latina, continua até os dias atuais. A figura heroica em torno de Emiliano Zapata inspirou vários movimentos de cunho revolucionários ao longo do século XX.
Emiliano Zapata Salaza (1879 – 1919) foi o condutor mais emblemático da Revolução Mexicana. Principal líder do Exército Libertador do Sul, Zapata chegou a comandar mais de 30 mil homens nos levantes contra o governo. Não por menos, ele foi considerado o herói da revolução. Devido ao seu posicionamento anarquista, foi uma das figuras mais radicais desse episódio, o que lhe impediu de assumir o poder do país, em 1914.
Atualmente, o movimento zapatista, conhecido como Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN -, continua as lutas por melhorias sociais dos mexicanos mais oprimidos. Os zapatistas ganharam fama quando, no dia 1º de abril de 1994, homens encapuzados tomaram as prefeituras de diversas cidades ao sul do México, na região de Chiapas. As principais lutas do zapatistas atuais estão ligadas ao fim da marginalização dos indígenas; à extinção do tratado de livre comércio entre os países da América do Norte, NAFTA e; o fim da corrupção na política nacional.
O atual líder do zapatismo se identifica como Subcomandante Marcos. Sua figura é envolta de uma mística que inspirou movimentos revolucionários por todo o mundo. Sempre encapuzado, sem deixar revelar sua verdadeira identidade, o Subcomandante Marcos faz discursos na internet, convidando camponeses e operários para a batalha. Suas mensagens são uma mistura de humor, poesia, folclore e críticas políticas.
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