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Literatura de Cordel: a tradição viva entre folhetos e versos

A Literatura de Cordel é uma das manifestações culturais mais ricas e autênticas do Brasil, enraizada na tradição oral e na identidade do Nordeste brasileiro. Com versos rimados e impressos em folhetos ilustrados por xilogravuras, o cordel representa a voz do povo, narrando histórias de amor, aventura, crítica social e religiosidade.

Originada da tradição europeia, a Literatura de Cordel foi rapidamente apropriada e ressignificada pelos brasileiros, especialmente no sertão nordestino, onde se tornou um dos principais veículos de comunicação e entretenimento popular. Com uma linguagem acessível e envolvente, os versos são declamados, vendidos em feiras e mercados e hoje encontram espaço também no meio digital, ampliando seu alcance para novas gerações.

Este artigo explora a história, os elementos essenciais e o impacto da Literatura de Cordel na cultura brasileira, além de discutir seu papel na educação e os desafios para sua preservação no século XXI.

O que é Literatura de Cordel? Elementos essenciais

A Literatura de Cordel é um gênero literário caracterizado pela sua forma rimada, métrica definida e estrutura narrativa envolvente. Tradicionalmente impressa em folhetos simples, muitas vezes ilustrados com xilogravuras, essa literatura tem origem na tradição oral, sendo recitada ou cantada em feiras e praças populares. 

Seu nome vem da prática antiga de pendurar os folhetos em cordas, ou cordéis, para exposição e venda.

O cordel aborda uma ampla variedade de temas, incluindo lendas, acontecimentos históricos, política, religiosidade e humor. Seus versos seguem padrões estruturais específicos, como a sextilha e a décima, conferindo ritmo e musicalidade ao texto. 

Além disso, a linguagem utilizada é marcada pela oralidade, tornando suas narrativas acessíveis a diferentes públicos. Há um forte vínculo entre o cordel e o repente e a embolada, gêneros musicais que compartilham a estrutura rimada e a improvisação característica. A linguagem coloquial e o tom humorístico também são característicos, tornando as histórias acessíveis a todos os públicos. 

Ao longo dos anos, o cordel se tornou um símbolo da resistência e da criatividade do povo nordestino, refletindo suas alegrias, desafios e valores culturais. Apesar de ter se popularizado no Nordeste, sua influência se espalhou por todo o Brasil e continua a se reinventar na era digital, alcançando novos leitores por meio de e-books, redes sociais e performances audiovisuais.

Fonte: Iphan | Foto de Francisco Moreira da Costa

Qual a origem da literatura de cordel?

Surgida no Brasil no século XIX, a Literatura de Cordel tem suas raízes na literatura popular de Portugal. Com a chegada dos colonizadores, essa forma de narrativa ganhou espaço entre os nordestinos, adaptando-se ao cotidiano da região e tornando-se parte da herança cultural nordestina. Os folhetos eram produzidos por meio da impressão tipográfica, distribuídos em feiras e mercados e recitados por repentistas em narrativas orais.

O cordel se popularizou principalmente no Nordeste brasileiro, onde se tornou um dos principais meios de comunicação e de registro da cultura regional. A facilidade de impressão e a acessibilidade dos folhetos permitiram que essa literatura atingisse camadas mais amplas da população, difundindo-se de maneira eficaz. A partir do século XX, passou a ser reconhecida como uma importante manifestação artística e cultural do Brasil.

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Os principais autores e suas obras icônicas

Vários cordelistas marcaram a história da Literatura de Cordel. Nomes como Leandro Gomes de Barros, considerado o pai do cordel brasileiro, e Patativa do Assaré, poeta popular que retratou a vida do sertanejo, são exemplos de autores que contribuíram para a riqueza dos versos populares e dos causos e contos contidos nesses livretos ilustrados.

Outros nomes notáveis incluem João Martins de Athayde, que publicou centenas de folhetos e se destacou por sua abordagem satírica, e José Pacheco, cujas histórias frequentemente abordavam temas épicos e lendários. Essas obras continuam a ser estudadas e admiradas, garantindo a perpetuação do gênero.

Exemplos de Literatura de Cordel

A Literatura de Cordel possui uma vasta gama de histórias e narrativas que marcaram gerações. A seguir, apresentamos dois exemplos clássicos:

O Romance do Pavão Misterioso – João Melchíades Ferreira da Silva

Um dos cordéis mais famosos do Brasil, “O Romance do Pavão Misterioso” narra a história de um jovem que se apaixona por uma mulher mantida presa em uma torre por seu pai. Com a ajuda de um pavão mecânico, ele consegue resgatá-la e viver seu amor. Essa narrativa é um dos maiores sucessos da literatura de cordel, tendo sido adaptada para diversas mídias ao longo do tempo.

A Chegada de Lampião no Inferno – José Pacheco

Esse cordel satírico imagina a chegada de Lampião, o famoso cangaceiro, ao inferno. No poema, Lampião desafia o diabo e causa confusão entre as almas condenadas. O humor e a crítica social presentes nesse cordel fazem dele um dos mais populares e conhecidos da literatura nordestina.

Fonte: Literatura de Cordel – UFPB | Xilogravura de Marcelo Soares

O impacto da Literatura de Cordel na cultura brasileira

O cordel moderno transcende os folhetos impressos e se expande para outras mídias, influenciando o cinema, a música e o teatro. Elementos dessa tradição aparecem em peças de Ariano Suassuna e em letras de músicas de Luiz Gonzaga. Sua representação social também é relevante, abordando temas como política, injustiça e desafios da vida cotidiana.

Além disso, o cordel tem sido utilizado como meio de resistência cultural, permitindo que artistas e escritores expressem suas visões de mundo e denunciem desigualdades sociais. Muitas histórias narram o cotidiano do sertanejo, os desafios da seca e a luta do povo nordestino, contribuindo para a valorização e o reconhecimento da identidade local.

Cordel e educação: como essa tradição está presente nas escolas?

Nos últimos anos, a Literatura de Cordel tem sido utilizada como ferramenta pedagógica em escolas, despertando o interesse dos alunos pela leitura e escrita. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel incentiva projetos que introduzem essa expressão nas salas de aula, e a influência do cordel é percebida até mesmo no vestibular, sendo frequentemente abordada em questões de literatura e cultura brasileira.

Muitos educadores utilizam o cordel para ensinar conteúdos históricos e literários, tornando o aprendizado mais dinâmico e interativo. Além disso, a produção de textos em formato de cordel incentiva o desenvolvimento da criatividade e da oralidade dos estudantes, proporcionando um ensino mais engajador e significativo.

Desafios e perspectivas para a Literatura de Cordel no século XXI

Apesar de seu rico legado, a Literatura de Cordel enfrenta desafios na era digital. A transmissão oral e a venda de folhetos impressos competem com as redes sociais e os e-books. Entretanto, iniciativas de cordelistas modernos mostram que o gênero pode se reinventar, mantendo sua essência e alcançando novos públicos.

A adaptação para o formato digital tem sido uma alternativa promissora, com a publicação de cordéis em blogs, podcasts e vídeos. Essa nova abordagem permite que um público maior tenha acesso ao conteúdo, garantindo que essa tradição continue viva. Além disso, festivais e encontros de cordelistas ajudam a fortalecer a prática e a incentivar novas gerações a se interessarem pelo gênero.

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O legado eterno da Literatura de Cordel

Mais do que um gênero literário, a Literatura de Cordel é um patrimônio cultural imaterial, um tesouro da cultura popular brasileira que continua a emocionar e ensinar. Seu impacto está presente na identidade do Nordeste brasileiro e na formação de novas gerações de leitores e escritores. O desafio agora é garantir que essa tradição viva continue a florescer, seja nos versos impressos ou nas telas digitais.

Para que isso aconteça, é fundamental o apoio de políticas públicas voltadas para a preservação e a valorização do cordel, bem como o incentivo ao seu uso nas escolas e na mídia. Dessa forma, essa expressão artística poderá seguir encantando e educando pessoas por muitos anos, reforçando sua relevância na cultura brasileira.

Rafaela Luchese

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