Manuel Bandeira foi um dos principais nomes da primeira fase da geração modernista brasileira, que se deu entre os anos de 1922 e 1930. O escritor, que também era professor e historiador, possui uma longa obra que retrata, principalmente, o cotidiano e a melancolia.
Por isso, a biografia de Manuel Bandeira é muito importante para compreender o que significou o Modernismo brasileiro e sua maior apresentação, a Semana de Arte Moderna de 1922. Por meio de suas obras literárias, o escritor pernambucano foi um dos artistas que mais influenciou a arte e a literatura do nosso país.
Para conhecer melhor esta figura icônica brasileira, continue a leitura e saiba mais sobre o pensamento e as obras do autor e suas influências até os dias atuais.
Manuel Bandeira é o nome abreviado de Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho. Nascido em Recife, no estado de Pernambuco, em 19 de abril de 1886, frequentou o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e se formou em Letras. Em 1913, para tratar da tuberculose, passou um ano na Suíça em um hospital especializado — onde conheceu o poeta Paul Éluard, que teve uma grande influência em sua poesia.
Foi em 1917 que Bandeira publicou seu primeiro livro, intitulado “A Cinza das Horas”, contendo influências simbolistas e parnasianas. Em 1919, com a publicação de “Carnaval”, o autor já se insere nas contestações e inovações do Movimento Modernista.
Manuel Bandeira também contribuiu com poemas para a Revista Klaxon, um importante veículo das ideias modernistas e que foi publicada mensalmente de 1922 a 1923. Na Semana de 22 o poeta contribui com o polêmico e irreverente poema “Os Sapos”, causando grande rebuliço no Teatro Municipal de São Paulo.
Em 1924 e 1930 publica, respectivamente, as obras “Ritmo Dissoluto” e “Libertinagem”. Já em 1938 começa a dar aulas de literatura no colégio Pedro II. Em 1940, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 24 de Júlio Ribeiro. O poeta faleceu em 13 de outubro de 1968, deixando uma vasta obra tanto poética quanto crítica e teórica.
O Modernismo no Brasil se tornou amplamente conhecido, principalmente, após a marcante Semana de Arte Moderna. No entanto, é importante saber que o movimento, que buscava mudança e novidade tantos nas artes e na política quanto na sociedade como um todo, se iniciou antes da semana de 1922, mas foi tomando forma gradativamente.
No começo do século XX, o mundo passava por um período de grandes mudanças políticas e 1914 foi o ano em que se iniciou aquela que ficaria conhecida como I Guerra Mundial. Esta guerra europeia teve um grande impacto também nas Américas e, sendo assim, o Brasil foi afetado pelo caos que tomava conta da Europa, com crises financeiras e o crescimento da inflação.
O Movimento Modernista nasceu do profundo descontentamento da população com a situação do Brasil, tanto econômica quanto cultural — afinal, a Independência do Brasil estava para completar seus primeiros 100 anos, mas o país continuava com o ideário dos tempos de colônia.
Os artistas brasileiros reivindicavam o desenvolvimento de uma cultura que fosse, de fato, brasileira, nascida dos desejos e dos problemas nacionais, ainda que não negasse o papel importante das influências dos movimentos artísticos europeus. Tratava-se de pensar de maneira diferente, causando uma ruptura com o passado engessado do simbolismo e propondo uma arte menos elitista.
A Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, é o evento que coloca o modernismo em evidência, trazendo uma série de leituras de obras literárias e, entre elas, textos de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade; com pinturas de artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti.
Entre as propostas do Modernismo estavam:
Manuel Bandeira não participou ativamente na Semana de 22 por conta de uma forte crise de tuberculose, mas se fez presente por meio de seu texto “Os Sapos”, lido pelo poeta Ronald de Carvalho.
Os sapos (trecho do poema)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.”
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
“Os Sapos” criticava abertamente os parnasianos por sua preferência e apego à métrica em detrimento do sentido e da significação do texto. A leitura do poema iniciou uma baderna entre a plateia, que começou a vaiar, fazer barulho e imitar a leitura. Assim, a noite foi prejudicada e teve que ser encerrada por conta da desordem.
A obra de Manuel Bandeira nasce e se desenvolve, inicialmente, dentro do Parnasianismo e do Simbolismo. Com suas reflexões e influências externas, como a de Paul Éluard, o poeta começa a refletir sobre questões que vão culminar como o “melhor verso livre em português”.
Seu estilo se adapta ao longo do tempo e amadurece de acordo com sua vivência e experiência. Ao longo dos anos, Bandeira vai perdendo seus parentes mais próximos: seus pais e irmãos falecem enquanto ele busca desenvolver sua obra. Desta forma, os textos de Bandeira recebem uma grande influência de temas como a morte, a melancolia e a solidão.
Além disso, a sua própria condição de saúde, com o quadro de tuberculose, fez com que o escritor vivesse com a iminência da própria morte, uma vez que a possibilidade era alta — essa fragilidade do ser humano também esteve sempre presente em seus textos.
Estudar os poemas de Manuel Bandeira é uma forma de compreender melhor o Brasil do início do século XX, o pensamento vigente na época, os desejos e frustrações dos indivíduos, além, é claro, do medo de um conflito de grandes proporções como foi a Primeira Guerra Mundial.
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