O grande ator Robin Williams nos deixou no ano de 2014. Como legado, permanecem vários filmes memoráveis e atuações em papéis inesquecíveis. E se há um deles que vai sempre ser lembrado por todos é o clássico Sociedade dos Poetas Mortos.
A obra inspirou gerações e continua sendo utilizada como uma verdadeira lição de vida. Não à toa, ela já apareceu várias vezes em vestibulares aqui no Brasil. Quer aprender mais sobre esse filme clássico? Então, continue a leitura!
Sociedade dos Poetas Mortos — ou Dead Poets Society, no original — é um longa-metragem de drama dirigido por Peter Weir e estrelado pelo saudoso Robin Williams. O filme conta a história de um professor de poesia que utiliza métodos de aprendizagem muito diferenciados da escola onde começa a trabalhar.
A obra se passa no ano de 1959 e é ambientada na fictícia escola secundária Academia Welton, considerada uma das melhores dos Estados Unidos. A história toda acontece em torno de John Keating (Robin Williams), um professor e ex-aluno da instituição que lecionava na Chester School, em Londres, e é chamado para substituir o agora aposentado professor de Literatura.
O longa-metragem é muito aclamado tanto pelos críticos de cinema quanto pela audiência. No Rotten Tomatoes, famoso site agregador de críticas e análises, Sociedade dos Poetas Mortos recebeu 84% de avaliações positivas dos profissionais especializados e 92% de aprovação pelo público, o que demonstra uma recepção altíssima por ambas as partes.
O filme foi extremamente premiado na década de 1990. Recebeu as seguintes condecorações:
Como falamos anteriormente, o filme se passa no ano de 1959 e a trama envolve um ex-aluno da renomada Academia Welton que torna-se professor de poesia e, então, é chamado para substituir um professor aposentado de Literatura.
A Academia Welton, famosa por sua rigidez e tradição dos valores burgueses e conservadores, é uma escola fictícia norte-americana voltada apenas para a educação de meninos. A instituição orgulha-se por formar grandes líderes em uma sociedade na qual os pais influenciavam fortemente a escolha profissional de seus filhos, partindo da prática de quatro grandes princípios. São eles:
Nesse contexto, John Keating (Robin Williams), um professor nada convencional, confronta os valores ultraconservadores da Welton e busca valorizar a expressão artística e a liberdade de seus alunos, aspectos limitados pela própria instituição.
Em cima desses valores, o objetivo da Academia Welton era preparar seus alunos para ingressarem na renomada universidade de Harvard e tornarem-se advogados e médicos. Com uma pedagogia inflexiva, a Welton encontra em John Keating um educador combativo e que desconstrói seus valores mais preciosos.
Com uma nova forma de ensinar, Keating se opõe ao sistema de ensino vigente da época, introduzindo o que acreditava ser um ideal pedagógico correto. Com métodos inusitados, ele encontra uma certa resistência inicial por parte de seus alunos, mas passa a ser adorado por eles no decorrer do filme.
O objetivo de John Keating é fazer com que seus alunos pensem por si próprios, desenvolvendo uma visão crítica da vida e da sociedade e também expondo seus sentimentos ao escreverem poemas — algo considerado como um extremo tabu para a época.
Em alusão a um poema de Walt Whitman, Keating informa aos estudantes na primeira aula que gostaria de ser chamado de “Ó Capitão! Meu Capitão!” (Oh, Captain! My Captain!), em uma tentativa de dissuadir seus alunos do sentimento de passividade exacerbada motivada pelo sistema altamente autoritário da escola, que impede que os meninos pensem sobre a vida e seus desejos pessoais.
O objetivo do professor é que os alunos, sobrecarregados com as atividades e responsabilidades de um futuro maçante, desenvolvam em seus corações sonhos e fantasias — quer que se vá além da formação profissional.
Com reflexões sobre o papel e a existência de cada aluno, o professor instiga os mesmos a pensarem sobre a fragilidade do que é viver e sobre o tempo. Assim, lança mão de uma expressão que hoje é muito famosa: “Carpe Diem”, ou aproveite a vida. Alguns garotos de sua classe passam a viver o ideal do Carpe Diem pregado por Keating e acabam descobrindo que, quando estudou em Welton, ele fez parte da “Sociedade dos Poetas Mortos”, um grupo de poesia e expressão de ideias.
A turma de Keating resolve, então, recriar esse grupo. Eles passam a se encontrar à noite em uma caverna próxima à escola. Com o ressurgimento da Sociedade dos Poetas Mortos, cada aluno envolvido experimenta uma verdadeira revolução em suas vidas, encontrando novos interesses e vocações e fazendo florescer a juventude em toda a sua energia.
Nas aulas ministradas por Keating, o professor busca a reflexão sobre o que faz com que a existência humana seja valiosa. Como aproveitar tudo que tem relação com o espírito, o prazer e a alegria? Assim, ele leva seus alunos por uma jornada através da poesia e da literatura, ajudando-os a encontrar respostas em textos clássicos.
Esse idealismo e encantamento de Keating pela vida e seu amor pela ação de lecionar encontram em seus alunos um potencial grande para transformar suas vidas. Entretanto, seus princípios são confrontados pelo conservadorismo da Academia Welton e das próprias famílias dos estudantes.
No filme, esse choque é tão violento e opressor que o resultado é o fim da Sociedade dos Poetas Mortos, o surgimento de vários desentendimentos e brigas entre os alunos e, pior ainda, o suicídio de um dos garotos. Tudo isso culmina com a demissão sumária de Keating, acusado injustamente de ser o motivador da morte de Neil —a justificativa é que seus métodos pedagógicos incentivavam os meninos a cometerem atos de rebeldia.
Em sua conclusão, o longa mostra a turma de alunos de Keating após a demissão, que passa a receber aulas de Literatura e estudo de poesias pelo próprio diretor da Welton. Em sua primeira aula, o diretor fica surpreso com a manifestação favorável a Keating por parte dos alunos quando John entra na sala para recolher seus objetos e, finalmente, ir embora. Ao som de “Ó Capitão! Meu Capitão!”, com todos os alunos em pé nas mesas, Keating se despede e agradece o apoio de sua antiga turma nessa que é uma das cenas mais famosas do cinema.
A obra busca a reflexão sobre o sistema de ensino atual, que ainda hoje apresenta muitas semelhanças com os valores tradicionalistas apresentados no filme. Isso pode ser percebido não apenas no ensino, mas também na própria sociedade, voltada a produzir mão de obra barata e especializada e suprimindo os anseios e as individualidades de cada ser humano.
O tema central abordado pelo filme Sociedade dos Poetas Mortos é o constante conflito entre as necessidades e vontades dos jovens de viverem intensamente, bloqueada por um sistema de ensino rígido e autoritário que tolhe dos alunos a busca por outras visões de mundo. O catalisador desse conflito é o visionário professor John Keating, que surge para instigar em sua nova turma o pensamento crítico e pessoal.
Mas o espaço para a criação e desenvolvimento do extraordinário é, por vezes, limitado. Em uma sociedade em que o pensamento coletivo é massificado e automatizado, pessoas como Keating lutam para que se possa ter ideias e vontades próprias.
O filme critica fortemente a sociedade que, apoiada em muletas de ideias vazias, evita estimular em si mesma a visão extraordinária de pensadores e poetas mortos. Esses últimos são a base que norteia todos os pensamentos do professor, com citações e referências a grandes clássicos da literatura internacional.
Sociedade dos Poetas Mortos é um filme imperdível, principalmente para aqueles envolvidos com educação e pedagogia. Afinal, a obra busca alimentar ideais de reformulação e fomenta os sonhos da juventude que tem tanto acesso à informação nos dias de hoje.
Recheado de grandes atores, o filme conta com um elenco que passou a ser muito respeitado após o filme. Abaixo, os principais nomes:
Uma das principais características do filme Sociedade dos Poetas Mortos é o grande background referencial que ele carrega. Além disso, a temática e as lições de vida da obra fizeram com que seu roteiro se tornasse célebre. Algumas das frases ditas no filme que merecem destaque são:
A ideia de “Carpe Diem” foi retirada do poema Ode 1.11, do filósofo e poeta romano Horácio:
Não procures, Leucónoe — ímpio será sabê-lo —,
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos:
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê inda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa esp’rança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
que nunca o de amanhã merece confiança.
Oh capitão! Meu capitão!
Oh capitão! Meu capitão! nossa viagem medonha terminou;
O barco venceu todas as tormentas,
……[o prêmio que perseguimos foi ganho;
O porto está próximo, ouço os sinos,
o povo todo exulta,
Enquanto seguem com o olhar a quilha firme,
……[o barco raivoso e audaz:
Mas oh coração! coração! coração!
Oh gotas sangrentas de vermelho,
No tombadilho onde jaz meu capitão,
Caído, frio, morto.
Oh capitão! Meu capitão! erga-se e ouça os sinos;
Levante-se – por você a bandeira dança – por
……[você tocam os clarins;
Por você buquês e fitas em grinaldas –
……[por você a multidão na praia;
Por você eles clamam, a reverente multidão
……[de faces ansiosas:
Aqui capitão! pai querido!
Este braço sob sua cabeça;
É algum sonho que no tombadilho
Você esteja caído, frio e morto
Meu capitão não responde, seus lábios
……[estão pálidos e silenciosos
Meu pai não sente meu braço, ele não
……[tem pulsação ou vontade;
O barco está ancorado com segurança
……[e inteiro, sua viagem finda, acabada;
De uma horrível travessia o vitorioso barco
……[retorna com o almejado prêmio:
Exulta, oh praia, e toquem, oh sinos!
Mas eu com passos desolados,
Ando pelo tombadilho onde jaz meu capitão,
……[caído, frio, morto.
Ela caminha em formosura
Ela caminha em formosura, como uma noite
Em que o céu está sem nuvens e com estrelas palpitantes,
E o que há de bom em treva ou resplendor
Se encontra em seu olhar e em seu semblante:
Ela amadureceu à luz tão branda
Que o Céu denega ao dia em seu fulgor.
Uma sombra de mais, em raio que faltasse,
Teriam diminuído a graça indefinível
Que em suas tranças cor de corvo ondeia
Ou meigamente lhe ilumina a face:
E nesse rosto mostra, qualquer doce idéia,
Como é puro seu lar, como é aprazível.
Nessas feições tão cheias de serenidade,
Nesses traços tão calmos e eloquentes,
O sorriso que vence e a tez que se enrubesce
Dizem apenas de um passado de bondade:
De uma alma cuja paz com todos transparece,
De um coração de amores inocentes.
Por fim, uma citação importante do autor, poeta, naturalista e ativista Henry David Thoreau:
“Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. Não desejava viver o que não era vida, a vida sendo tão maravilhosa, nem desejava praticar a resignação, a menos que fosse de todo necessária. Queria viver em profundidade e sugar toda a medula da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso; encurralá-la num beco sem saída, reduzindo-a a seus elementos mais primários, e, se esta se revelasse mesquinha, adentrar-me então em sua total e genuína mesquinhez e proclamá-la ao mundo; e se fosse sublime, sabê-lo por experiência, e ser capaz de explicar tudo isso na próxima digressão. Porque me parece que muitos homens estão terrivelmente incertos, sem saber se a vida é obra de Deus ou do demônio, e têm concluído com certa sofreguidão que a finalidade principal do homem aqui na terra é ‘dar glória a Deus e gozá-lo por toda a eternidade’.”
Sem dúvidas, Sociedade dos Poetas Mortos é um clássico que continua atual nos dias de hoje. Suas críticas inteligentes e voltadas principalmente para assuntos de educação fazem com que sua longevidade se estenda ao longo de décadas.
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