Redação

O incentivo ao voluntariado no Brasil

A palavra voluntário, de origem latina (voluntarius), significa aquele que age por vontade própria. Sendo assim, entendemos como um indivíduo, que sem forças externas, dispõe-se a fazer algo. 

Por exemplo, em sala de aula o professor pode perguntar:

– Algum voluntário para ler o texto de hoje? 

Partindo dessa lógica, a pessoa pode ser voluntário para qualquer coisa, inclusive para o mal:

– Algum voluntário a atear fogo aqui nesse latão de lixo? – Poderia dizer o aluno líder (muito culto, por sinal) do grupinho de indisciplinados da turma.

Todavia, a nossa língua é viva e um mesmo termo pode se referir a significados diferentes em cada contexto. A palavra voluntário sofre esse fenômeno e sozinha refere-se mais diretamente as ações solidárias, nas quais o sujeito nega o seu individualismo e se coloca à disposição de projetos para o bem coletivo. 

Dessa forma, a ONU, por exemplo, caracteriza voluntário como “o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos.

Bem estar social é uma temática constante nas propostas de Redação Enem, visto que os temas são problemas sociais e que a prova tem, como um dos critérios de avaliação do texto, a capacidade do candidato em resolver situações.

Portanto, além de poder ser um tema de redação, estudar o incentivo ao voluntariado no Brasil é exercitar o pensamento sobre ações interventivas para problemas sociais do cotidiano, que se encaixam em outros possíveis temas.

Altruísmo, caridade, solidariedade e voluntariado: são a mesma coisa?

Ser altruísta, caridoso e solidário são sentimentos que permitem o voluntariado. Apesar das palavras terem significados diferentes, elas, dentro do contexto do tema “Incentivo ao voluntariado no Brasil”, pertencem ao mesmo campo de sentidos.

Ao escrever uma redação, temos o desafio de não repetir palavras, por isso a importância de conhecermos esses termos e entendermos quando eles poderão ser utilizados como “quase sinônimos”, ou seja, palavras que,  no recorte temático, têm certa equivalência de sentido.

Altruísmo

Vem do latim “alter” que significa: outro. Sendo assim, altruísmo é colocar o outro em primeiro lugar. Ações altruístas não buscam recompensa e nem reconhecimento.

Você pode ser voluntário e não altruísta quando, por exemplo, faz parte de uma organização em que o seu trabalho voluntário poderá constar em seu currículo como experiência profissional e ou conferir horas para a atividades complementares exigidas pela Universidade. 

Nesses casos, “você” e o “outro” estão sendo beneficiados, o que não diminui a sua ação para o bem, porém não se aplica ao conceito original de altruísmo.

Esse termo já foi tema de Redação no vestibular da Fuvest de 2011. Veja abaixo a proposta e uma redação acima da média sobre o tema:

Caridade

Vem do latim “caritas” que está associado ao sentido de “caro”; preço alto. Portanto, entende-se um ato de caridade como aquele  feito a  qualquer custo, mesmo sendo este a própria vida do caridoso.

Acredita-se que deriva do sentido de amor ágape, do grego, que significa amor doação. Por isso, o termo é muito utilizado pelas religiões para propor a ideia de sacrifício por amor. 

Pensando dessa forma, a caridade vai além do voluntariado, ela é uma decisão de vida, de vocação e não uma ação momentânea.

Muitos mitos e lendas simbolizam essa ideia e, mesmo sendo mais profunda do que o sentido de ser voluntário, pode ser utilizada como analogia para o tema.  

Por exemplo, a lenda do coelho lunar, usada no Budismo, para celebrar a ideia do sacrifício – pequena narrativa sobre um velho que pediu ajuda aos animais para conseguir alimento e o coelho.

Um dentre eles, conseguiu apenas ervas. Vendo que aquilo não era substancial para alimentar o senhor, ele se atira ao fogo, oferecendo-lhe a própria carne. 

Algumas versões contam que o velho mendigo era uma entidade divina disfarçada de homem que, como homenagem ao coelho, colocou sua imagem na lua, para que todos se lembrassem de seu ato heróico.

Pessoas afirmam conseguir ver, no Oriente,  a imagem, durante a lua cheia, de um coelho ao lado de um pilão e de um socador de ervas.

Voluntariado na Redação

Posso usar uma lenda na Redação?

Você deve ter se perguntado agora – As lendas, e outras narrativas ficcionais, podem ser utilizadas desde que associadas ao tema e a elementos concretos que comprovem suas ideias. 

Por exemplo, nesse caso, a lenda do Coelho lunar (ou coelho de Jade, como também é conhecida) pode ser usada na introdução do texto, como contextualização do tema.

Já nos parágrafos do desenvolvimento, pode ser comparada a exemplos de personalidades que dedicaram sua vida a uma causa (como o coelho) e o como isso pode ser satisfatório para o próprio indivíduo (comparação com o elixir da imortalidade).

Solidariedade

A palavra vem do latim “solidus” – que significa inteiro, completo, independente. Com as transformações da língua, a derivação solidariedade passou a significar a ação daquele que ajuda, como se entendêssemos que para dada situação ser completa, ela precisa da colaboração de alguém disposto a integrá-la. 

Sendo assim, solidário é o termo que mais se aproxima a ideia de ser voluntário, sem exigir explicações, enquanto os adjetivos altruísta e caridoso são mais profundos e, portanto, exigem a explicação de que o voluntariado vem de uma inspiração altruísta ou caridosa.

Vejamos a campanha do Governo Federal, de 2019, sobre voluntariado, o Programa Pátria Voluntária. A justificativa do projeto apresenta:

O Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado, vinculado ao Ministério da Cidadania, tem por objetivo fomentar a prática do voluntariado como um ato de humanidade, cidadania e amor ao próximo; e estimular o crescimento do terceiro setor, contribuindo para a transformação do Brasil em um país mais justo e mais solidário.”

Então, solidariedade pode ser uma boa palavra para pensarmos em um possível tema de Redação.

Quando ser voluntário foi algo polêmico?

Uma problematização possível para pensar: por que as pessoas não se sentem seguras a se tornarem voluntárias? 

Um dos motivos é falta de confiança. Por exemplo, já fomos surpreendidos com organizações envolvidas em escândalos. Em 2012, a Cruz Vermelha (organização internacional) abriu uma auditoria, no Brasil, suspeitando sobre o desvio de donativos na unidade brasileira. 

O caso foi noticiado em grandes veículos de comunicação, na época, como a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo. Em 2014, as investigações comprovaram que três campanhas nacionais de arrecadação da Cruz Vermelha brasileira, durante o ano de 2011 (vítimas de deslizamento no Rio de Janeiro; guerra civil na Somália; terremoto no Japão) não encaminharam a verba arrecadada aos seus destinos. 

Você pode pesquisar vários outros exemplos de casos assim que justificariam, em sua redação, o argumento de que as pessoas não são voluntárias porque não confiam nas instituições.

Como propor uma solução para essa falta de confiança?

O geógrafo brasileiro Milton Santos defende a ideia de que a solução para os problemas ambientais é do local para o global, essa relação serve para os demais entraves sociais de nosso cotidiano. 

A pessoa que deseja contribuir para uma causa não precisa doar seu tempo ou dinheiro a uma grande organização (global) mas pode buscar em sua cidade, seu bairro, grupos ou pequenas instituições (local) com as quais possa colaborar.

Voluntariado no contexto atual

Dentro dessa perspectiva, podemos destacar as ações que estão sendo feitas durante a situação atual de pandemia do novo Coronavírus, como:

  • grupos de vizinhos que arrecadam materiais de higiene para distribuir àqueles que não têm condições de comprar máscaras e álcool em gel;
  • indivíduos que colocam cartazes nos elevadores dos prédios se oferecendo para fazer compras em mercados e farmácias para os moradores idosos, que não podem sair por serem do grupo de risco;
  • movimentos sociais que arrecadam e distribuem comida e roupas aos moradores de rua.

Como exemplo, podemos citar a ação do cantor Criolo, que lançou, durante a quarentena, uma nova versão de sua música “Não existe amor em SP”, com a participação de Milton Nascimento e Amaro Freitas, retratando as ruas da cidade de São Paulo vazias devido ao isolamento social e imagens de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Ao final do clipe, a hashtag #existeamor incentiva ao expectador visitar o site de uma campanha com o objetivo de arrecadar fundos para a organização “SP invisível” que ajuda moradores de rua.

Assim, como a lenda, as notícias, a citação de Milton Santos, esse clipe é uma dica de repertório sociocultural para a sua redação sobre o tema “O incentivo ao voluntariado no Brasil”. 

Nossa! Muita coisa, não é? Você deve estar questionando se é possível colocar tudo isso em um texto de trinta linhas. Fique calmo! 

Confira nossas aulas sobre Projeto de Texto, para aprender a selecionar as ideias, que poderão compor adequadamente a sua redação. Boa produção!

*Este texto foi produzido pela professora de redação do Stoodi, Gisele Lemos. A Gi é formada em Letras, especialista em Jornalismo Literário, uma admiradora das boas narrativas, sejam da música, do cinema, da literatura, das séries. Tem uma gata chamada Nietzsche, adora se maquiar e mudar a cor dos cabelos. Descubra mais sobre a nossa professora!

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