Prof. Braian explica o que você deve revisar sobre o assunto antes do ENEM
Foto: reprodução/divulgação
Zygmunt Bauman foi um sociólogo e filósofo muito importante que faleceu no início deste ano. Com essa fatalidade, a grande aposta dos nossos professores é que ele apareça em alguma questão do ENEM e de outros vestibulares.
Se você ainda não o conhece a fundo, fique tranquilo: o prof. Braian explicou os 3 principais pontos de Bauman que podem cair no vestibular. Para completar, vamos falar um pouco de sua trajetória.
Quem foi Zygmunt Bauman?
“Bauman foi um filósofo, sociólogo, pensador e professor do século XX que atuou até o início deste ano”, introduz o prof. Braian. Ele nasceu em 1925, na Polônia, e morreu em 2017, na Inglaterra, com 91 anos de idade.
Seus pais eram refugiados judeus que viveram na União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Com 19 anos, Bauman entrou para o Partido Comunista. Quando retornou a seu país, sofreu pressão do serviço de inteligência polonês.
Bauman deu aula de sociologia na Universidade de Varsóvia e depois foi à Inglaterra ser professor na Universidade de Leeds, onde trabalhou até o fim de sua vida.
Atualmente, temos mais de 40 obras traduzidas para o português. Conheça algumas: “O mal-estar da pós-modernidade”, “Vidas desperdiçadas”, “Vida líquida”, “Tempos líquidos”, “Globalização – As consequências humanas” e “Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos”. Sua obra mais recente traduzida foi publicada em 2015, chamada “A riqueza de poucos beneficia todos nós?”.
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Agora que já conhecemos um pouco sobre o sociólogo, vamos entender como ele pode ser cobrado nos processos seletivos.
“O principal ponto de Bauman, que está muito em destaque, é a ideia de liquidez. Se ele aparecer no vestibular ou no ENEM, vai ser cobrando algo sobre esse conceito”, explica Braian.
Mas o que seria essa liquidez?
No livro Modernidade Líquida, publicado em 1999, Bauman explica em seu prefácio: “‘Fluidez’ é a qualidade de líquidos e gases. O que os distingue dos sólidos(…). Eles sofrem uma constante mudança de forma quando submetidos a tal tensão”.
Ele apresenta a ideia de que os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”, “pingam”; são “filtrados”, “destilados”; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos — contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho.
“Essas são razões para considerar ‘fluidez’ ou ‘liquidez’ como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de muitas maneiras, na história da modernidade”, introduz Bauman.
Dentro da ideia de liquidez, precisamos revisar 3 tópicos importantes: a modernidade líquida, o Estado líquido e o amor líquido.
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1. Modernidade líquida
Processo histórico:
Voltando ao surgimento da Modernidade, esse é o momento em que surgem as instituições sociais. Bauman vai dizer que esse é um período sólido. Essa sociedade moderna é estável, os indivíduos se sentem seguros – o próprio Estado que está no controle da sociedade, centralizando em torno de si, está oferecendo estrutura para as famílias.
Depois disso, temos o século XX. Neste período, as coisas começam a mudar. O cenário é tomado por uma instabilidade econômica, com o ciclo do capital girando em altos e baixos, o que fica visível com a Crise de 29, por exemplo. Além disso, outros fatores, como as novas tecnologias e a globalização, geram uma certa perda de controle. A estrutura social, portanto, começa a mudar bastante.
Seguindo a nossa linha do tempo, vamos ter, então, o que Bauman chama de Modernidade líquida. O teórico explica que nesse momento as organizações sociais estão liquefeitas e dissolvidas – ou seja, não tem mais base sólida.
Isso vale no trabalho, por exemplo, quando as pessoas começam a trocar com frequência de emprego. A mesma coisa acontece com a ideia de identidade pessoal, família, política, amizade e amor.
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Características da modernidade líquida:
Quando a nossa sociedade estava nos moldes sólidos, durante a chamada Modernidade, as pessoas desenvolviam suas ideias e estabeleciam suas relações com um ritmo mais lento, de forma que as construções interpessoais eram, até mesmo, previsíveis.
Já com a revolução digital e outras transformações, estamos vivemos um período que as mudanças ocorrem de forma veloz e imprevisível.
“O nosso mundo moderno não é sólido, estável, fixo, enrijecido, seguro. Uma coisa sólida, parada, que ganhou um corpo, uma forma. O líquido, ao contrário, é algo que não tem forma, não tem segurança, que se perde fácil, que é volátil”, explica o prof. Braian.
Segundo o professor, o mundo moderno é esse líquido. “Isso vale para a ideia de Estado, a ideia das relações sociais, ideia de tempo, de amor e de amizade, por exemplo”, completa ele.
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2. Estado líquido
– Mas como seria um Estado líquido?
“O Estado não está mais cumprindo o seu papel da garantia social. As instituições sociais são garantidas pelo Estado. A tendência é a dissolução do Estado, o Estado mínimo. Então, o Estado está se liquefazendo também”, explica o prof. Braian.
Em entrevista ao jornal El País, Bauman explicou que não há mais um “compromisso sólido” em diferentes esferas, como o Estado, o emprego e a comunidade em que se vive, por exemplo. “Nossos acordos são temporários, passageiros, válidos apenas até o novo aviso”, disse ele.
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3. Amor líquido
Essa ideia de liquidez fica muito clara na forma em que estabelecemos as nossas relações afetivas. O prof. Braian cita um exemplo que o próprio Bauman contou em uma de suas visitas ao Brasil.
“Em uma relação offline, a gente tem o contato olho no olho, demora um tempo para se construir um laço afetivo. Nós criamos raízes e não podemos cortar esse laço afetivo de um dia para o outro. Se o corte acontece, ele é traumático, pode envolver brigas e acontece aos poucos”, comenta.
“Hoje não é mais assim. Podemos fazer uma amizade no facebook, depois é só excluir e está resolvido. É muito fácil estabelecer uma relação e é muito fácil cortar essa relação. Por isso que não é sólido. É líquido”, conclui Braian.
Zygmunt Bauman tinha um certo pessimismo em relação às redes sociais pelo fato de não sairmos mais da zona de conforto – nos submetendo a viver em bolha, com novos hábitos para estabelecer nossa relações. Ele chegou a afirmar, “tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”.
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