A Fuvest é um dos vestibulares próprios mais conhecidos do Brasil. Ele é o responsável por fazer o processo seletivo para a Universidade de São Paulo (USP), uma das melhores instituições de Ensino Superior do Brasil. É considerado, também, uma das provas mais difíceis do país.
A prova tem ficado cada vez mais semelhante ao Exame Nacional do Ensino Médio. Porém, existe uma diferença fundamental com a qual você precisa estar atento: é uma prova que cobra leituras obrigatórias.
A lista de livros Fuvest 2025 já está lançada! Conheça mais sobre as obras obrigatórias a seguir!
O livro “Marília de Dirceu” é considerado uma das obras mais essenciais do Arcadismo no Brasil. Ele é um poema lírico longo, que perpassa toda a obra e que retrata uma história de amor idealizada entre Dirceu e Marília.
Inclusive, Dirceu é inspirado no autor, Tomás Antônio Gonzaga e, Marília, é inspirada em sua amada Maria Doroteia. A obra é dividida em três partes e ela passa por diferentes fases da vida de Dirceu (o eu lírico), expressando seu amor pela sua amada e suas expectativas.
Na primeira parte, temos a expressão do amor bucólico e esperançoso. Já a segunda fase é bastante demarcada por melancolia e saudade. Por fim, na terceira parte, ela já perpassa o pessimismo e a sensação de solidão do eu lírico. Inclusive, essa última parte foi escrita por Gonzaga enquanto estava em exílio na África.
A obra é uma representação clássica dos ideais do Arcadismo, com as seguintes características:
A escrita é direta e retrata imagens bucólicas e referências à mitologia greco-romana. Além disso, também aborda não só o amor, mas também os sentimentos de Gonzaga durante seu envolvimento com a Inconfidência Mineira
Como pode aparecer na Fuvest:
As questões sobre “Marília de Dirceu” podem abordar os temas e as características do Arcadismo, como o bucolismo e a simplicidade na linguagem. Outro ponto que também costuma cair bastante é a análise de uma lira específica e dos sonetos, focando em como o autor expressa seus sentimentos de amor e melancolia, além de contextualizar o tema com o período da escrita da obra, no final século XVIII e com a Inconfidência Mineira
“Quincas Borba,” é um romance realista publicado em 1891, com autoria de Machado de Assis. Nele, acompanhamos a história de Pedro Rubião de Alvarenga, um professor primário de Barbacena que herda a fortuna de Quincas Borba, um excêntrico filósofo e, também, amigo de Rubião. A condição é que ele também herdasse o cão do falecido, que tem o nome do falecido dono — ou seja, também Quincas Borba.
O professor muda-se para o Rio de Janeiro e, a partir daí, começamos a ver suas relações com o casal de “amigos” Cristiano Palha e Sofia, com quem Rubião se apaixona perdidamente.
Ele também vai sendo manipulado pelo casal em busca de ganho financeiro até o ponto em que enlouquece. No final da história, ele chega a acreditar que era o imperador francês Luís Napoleão.
A obra reflete temas característicos do Realismo, como a crítica social e a análise psicológica dos personagens. É uma obra com narrador onisciente bem característico, que entrega uma visão irônica e objetiva das situações.
Essa perspectiva permite que os leitores acompanhem gradualmente os passos da decadência do protagonista, até começar a se perder em delírios. O conceito filosófico de Quincas Borba, chamado Humanitismo, serve de pano de fundo para a narrativa, representando uma versão satírica da “seleção natural” onde “ao vencedor, as batatas”.
Como pode aparecer na Fuvest:
Na prova, as questões podem abordar, principalmente, como o narrador conta a história de forma irônica e como ele, também, manipula o leitor. Também é possível que caiam questões nas quais seja correlacionado o pano de fundo da visão do Humanitismo com o desenrolar da obra, bem como também está alinhado com a visão crítica que o autor tinha sobre a sociedade brasileira do século XIX.
Você também deve ter atenção em como essa obra possui certa intertextualidade com “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e como ambos os romances compartilham o tema do pessimismo filosófico e de um humor mais ácido.
“Os Ratos” é uma obra publicada em 1935 e é considerada o romance mais emblemático do autor Dyonélio Machado. O livro narra as angustiantes 24 horas da vida de Naziazeno Barbosa, um funcionário público que acorda com o dilema de pagar sua dívida com o leiteiro.
Ao longo do dia narrado, Naziazeno perambula por Porto Alegre tentando conseguir o valor devido. Porém, o protagonista passa por negações, humilhações de outros personagens e vamos acompanhando como sua saúde psicológica vai se deteriorando ao longo dos acontecimentos da narrativa.
Por fim, ele é manipulado pelos seus amigos e tenta apostar suas últimas esperanças em uma roleta — porém, sem sucesso.
É uma obra que reflete bem o Modernismo brasileiro de segunda geração. Ao longo da narrativa, o autor faz suas críticas à sociedade brasileira da época, considerada por ele dominada pelo dinheiro. Isso fica bem nítido na exposição da angústia do protagonista frente aos seus desafios financeiros e dificuldade de resolver essas questões.
Além disso, há também uma crítica implícita às instituições públicas. A penúria de Naziazeno é uma metáfora para os problemas econômicos e sociais enfrentados pela sociedade brasileira da época. É uma obra muito demarcada, também, pela influência da psicanálise freudiana.
Como pode aparecer na Fuvest:
Na prova, as questões podem abordar as análises psicológicas do protagonista ao longo da obra. Também podem abordar a crítica social presente na narrativa e contextualizá-la com o período histórico, no qual havia uma construção de um ambiente urbano opressivo.
Além disso, pode abordar também perguntas sobre a estrutura narrativa e o estilo introspectivo da escrita de Dyonélio Machado e como se relaciona com o Modernismo de segunda geração.
A obra “Alguma Poesia” é o livro de estreia do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1930. É considerada a entrada do autor no Modernismo brasileiro.
O livro possui 49 poemas escritos entre 1925 e 1930 que, em sua maioria, refletem sobre temas que se repetem ao longo do estilo do escritor ao longo de sua carreira, tais como:
Os poemas apresentam uma linguagem coloquial e com doses de ironia, característica da poesia modernista. Assim, o autor tenta se afastar das tendências formais parnasiano-simbolistas.
Alguns dos poemas marcantes e que merecem atenção nos seus estudos são:
Drummond explora o indivíduo, retratando sua perspectiva sobre a vida e as relações sociais com pessimismo, humor e ironia. Além disso, nos poemas com temas familiares, o assunto aparece com um ar nostálgico, enquanto a crítica social e a evolução dos tempos são tratados com equilíbrio entre bom humor e reflexões.
Como pode aparecer na Fuvest:
Em geral, questões sobre Drummond abordam sobre sua linguagem inovadora e, também, como o poema-piada pode ser utilizado como um recurso para explicar sentimentos complexos.
Análises sobre como o autor aborda o cotidiano, a família e as mudanças sociais também podem aparecer na prova, destacando tanto o impacto da obra na literatura brasileira em geral, como também sua contribuição ao Modernismo.
“A Ilustre Casa de Ramires” é um romance com grande importância na literatura portuguesa. Ele foi escrito em 1900, durante a fase de maturidade de Eça de Queirós.
O romance aborda a vida de Gonçalo Mendes Ramires, um fidalgo que tenta reconciliar o glorioso passado de sua família ao vivenciar uma vida medíocre na realidade contemporânea de Portugal na época em que a obra foi escrita.
Um ponto de atenção para o estudante é que a obra é composta por duas narrativas entrelaçadas: a vida atual de Gonçalo, que luta com suas ambições políticas e pessoais e, ao mesmo tempo, é também um romance histórico sobre Tructesindo Ramires, um ancestral heroico.
É um livro conhecido pela sua crítica sobre o romantismo nacionalista. O autor faz isso por meio da sátira, retratando a decadência moral e social da aristocracia portuguesa.
Para isso, Eça de Queirós combina tanto elementos da escola realista quanto, também, uma escrita repleta de detalhes, pensando em fazer quase um retrato vívido da vida provinciana portuguesa do período. A narrativa também destaca o conflito entre os ideais heróicos do passado e a corrupção e trivialidade do presente no começo do século XX.
Como pode aparecer na Fuvest:
Questões sobre a obra podem abordar a estrutura dual da narrativa, explorando como essas duas histórias conjuntas podem refletir e comentar uma sobre a outra. Outra possibilidade é analisar o uso da ironia para fazer críticas à sociedade lusitana.
Publicado em 1964, “Nós Matamos o Cão Tinhoso!” é um livro de contos do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana. A coletânea aborda as tensões sociais durante o período colonial português em Moçambique.
Ela é formada por 8 contos independentes. Contudo, há um fio condutor que os une: a opressão colonial e a luta do povo moçambicano pela independência. Cada um deles revisita as experiências de diferentes personagens que enfrentam a discriminação e os preconceitos do sistema colonial, explorando questões como pobreza, exploração, identidade e racismo.
O conto que confere o título à obra (“Nós Matamos o Cão Tinhoso!”), é o mais emblemático. Ele relata a história de um grupo de meninos que decidem matar um cachorro doente, simbolizando a desigualdade e a injustiça social.
Como pode aparecer na Fuvest:
Na prova, podem aparecer questões relacionadas com a crítica social implícita nos contos e como eles refletem a realidade da opressão colonial e as relações entre a obra e o colonialismo do século XX. As perguntas podem analisar a representação da infância sob o colonialismo, a busca por identidade, e o uso de símbolos e metáforas na obra.
“Água Funda”, publicado em 1946, foi o romance de estreia de Ruth Guimarães, sendo uma obra marcante na abordagem tanto de questões sociais quanto raciais. Ela aborda questões como racismo, preconceitos e a força da ancestralidade, focando na comunidade afro-brasileira e nos desafios que são enfrentados tanto no contexto da modernização quanto das transformações sociais.
A narrativa se passa na fazenda Nossa Senhora dos Olhos d’Água, na região do Vale do Paraíba, entre São Paulo e Minas Gerais. Ela aborda a vida de seus personagens por meio de duas narrativas separadas por 50 anos.
A narrativa explora a vida da fazendeira Sinhá Carolina e de trabalhadores como Joca e Curiango, entrelaçando suas histórias com os mitos e folclore locais. Assim, as questões relacionadas com a cultura nacional também estão muito presentes no texto.
A linguagem tem traços do Modernismo e, também, contempla questões relacionadas com regionalismos e coloquialismos. Esse é um ponto de atenção, pois pode ser uma das partes abordadas na prova.
Como pode aparecer na Fuvest:
Um dos pontos mais prováveis de aparecer é uma análise da linguagem e da estrutura de “Água Funda”, incluindo como a autora trabalha com duas histórias separadas por um arco temporal.
Além disso, por ser uma obra que aborda questões relacionadas com racismo, identidade e ancestralidade, esse tema pode aparecer também nas questões. Vale lembrar que é um livro que dialoga com outros livros da lista e é possível ter uma questão que trabalhe a intersecção entre eles.
Nesse caso, é importante estar atento para as semelhanças desse livro com “Quincas Borba,” de Machado de Assis, e “Dois Irmãos,” de Milton Hatoum.
O “Romanceiro da Inconfidência” é um livro publicado em 1953 com uma coletânea de poemas escritos por Cecília Meireles. Eles abordam o contexto da Inconfidência Mineira e a autora baseia-se, justamente, nas tradições dos romanceiros medievais para narrar a história trágica dos envolvidos na revolta.
Ao longo de toda a obra são apresentados 85 poemas, que funcionam como “mini romances”. Os temas abordam a busca pelo ouro no período, nas “minas gerais” e como, também, ocorreu a exploração das pessoas escravizadas no período.
Cecília aborda os temas com uma postura lírica e filosófica e os poemas abordam questões relacionadas com a condição humana, denúncias sobre a exploração dos oprimidos pelo sistema colonial. A obra retrata a vida de personagens importantes, como Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga e Chica da Silva.
É difícil, até mesmo, definir a escola literária que é base da obra, pois a autora trabalha com uma mistura entre o Arcadismo e o Barroco, criando uma obra que combina a simplicidade métrica do trovadorismo com a liberdade formal do Modernismo
Como pode aparecer na Fuvest:
No exame, as questões podem tratar sobre justamente as junções de diferentes estilos e influências que a autora utiliza na obra. Outra forma também pode ser a maneira como ela retrata as figuras históricas e a luta pela independência.
Também é possível ter questões que relacionam o estilo da autora e a estrutura dos romanceiros para criticar a sociedade colonial. Outro ponto são as reflexões filosóficas sobre a condição humana e o desejo por justiça social que aparecem na obra.
A obra “Dois Irmãos”, publicada no ano 2000, é uma das mais enxutas entre as selecionadas para a Fuvest, mas não por isso é menos densa. É um texto com sutilezas que merecem atenção de quem vai fazer a prova.
A obra narra uma relação de ódio entre dois irmãos gêmeos (Yaqub e Omar) em uma família libanesa que vive em Manaus. As referências às histórias clássicas de ódios entre irmãos está muito presente em todo o texto, retomando, por exemplo, Caim e Abel do Velho Testamento e, também, a de Pedro e Paulo, presente na obra “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, sendo essa última uma referência explícita.
É uma história que também faz referência às experiências de famílias de imigrantes que se dedicam ao comércio em uma cidade que está começando a vivenciar um período de decadência após o boom no início do século XX.
Assim, é um texto que remonta, também, a um período histórico e Manaus tem um papel central na condução da história, já que o narrador está em uma busca de uma cidade que ele vivencia na infância e não existe mais.
Como pode aparecer na Fuvest:
Na Fuvest, podem aparecer questões relacionadas tanto sobre construção de conflito na narrativa quanto, também, como as histórias paralelas se conectam à central. Também pode abordar a relação de imigrantes com o território, especialmente, nesse caso, a comunidade sírio-libanesa em Manaus.
Outro ponto que pode ser abordado é a linguagem do autor, que une uma linguagem coloquial com referências a expressões árabes e indígenas.
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