Cultura do estupro no Brasil: o que é, redação e mais!
O objetivo de uma proposta de redação em vestibular vai muito além de avaliar o domínio sobre a Língua Portuguesa. Ao escolher um tema, as universidades e o próprio Enem desejam avaliar sua capacidade argumentativa, a forma como você organiza os dados e fatos para conceber seu ponto de vista e seu nível de pensamento crítico diante das demandas da sociedade atual.
Para tanto, em geral são escolhidos temas que inspiram amplo debate, como é o caso da cultura do estupro no Brasil. Você já parou para refletir sobre essa questão?
Neste artigo, vamos explicar o que significa cultura do estupro e mostrar como ela está muito mais presente do que imaginamos. Vamos, ainda, demonstrar como você pode elaborar uma redação consistente com essa proposta. Fique conosco!
O que é cultura do estupro?
Embora, muitas vezes, você nem se dê conta, a mulher é constantemente subjugada e, principalmente, tratada como objeto sexual para satisfazer os desejos dos homens. Os exemplos são inúmeros.
Sabe aquelas propagandas de marca de cerveja que desrespeitam a figura feminina; ou a cena de violência sexual que romantiza o abusador; ou o “ingênuo” verso de uma música que diz que “se tiver mulher bonita, traga presa na corrente”; ou a famosa piada de que se uma mulher passar por uma obra e nenhum pedreiro assoviar é porque ela é feia?
Pois bem, todas essas expressões objetificam a mulher e diminuem-na em relação ao homem, colocando-a como uma mera serviçal de seus desejos. Além disso, culturalmente há um incentivo ao homem para consumir pornografia e ser conquistador, como meio de afirmação de sua heterossexualidade.
Aí está um cenário que contribui para disseminar a “cultura do estupro”, na qual os homens imaginam ter o direito de cometer violência sexual. Esse termo refere-se a um pensamento coletivo que resulta de crenças e normas comportamentais que banalizam, legitimam e toleram a violência contra a mulher.
Em entrevista ao Nexo Jornal, a professora Silvanna Nascimento, do departamento de Antropologia da USP, comentou que “as microviolências estão conectadas. O assédio e essa violência física , e todos têm a ver com uma visão masculina que tende a ver o corpo da mulher como um objeto de posse. É o que também permite que você fale que ela é gostosa na rua, faça piada depreciativa.”
Por ser um problema internacional, a cultura do estupro está sendo debatida mundialmente. Esse termo apareceu pela primeira vez entre os movimentos feministas dos anos 1970, e ganhou força diante de casos de estupros coletivos, sobretudo em países subdesenvolvidos ou emergentes, como a Índia, que registrou 35 mil casos de violência sexual contra mulheres em 2015.
Vale observar que o estupro é um dos crimes menos denunciados do mundo. Essa subnotificação é resultado, entre outros fatores, de as mulheres serem desencorajadas a prestarem queixa, sentirem culpa pela violência sofrida e terem medo de represálias.
Existe cultura do estupro no Brasil?
A tolerância ao estupro não é de hoje. Para se ter uma ideia, há relatos e registros históricos da época do Brasil Colônia demonstrando que era comum que os senhores de engenho mantivessem relações sexuais com suas escravas, sem consentimento.
No Brasil atual, a cultura do estupro continua presente. No metrô de São Paulo, por exemplo, a equipe de segurança está sempre a postos para denúncias de assédio sexual nos vagões, tamanha a quantidade de casos que ocorrem diariamente.
Além disso, temos uma falsa impressão de que o abusador é uma pessoa mentalmente desequilibrada, que fica de tocaia atrás de suas vítimas que passam em uma rua escura, tarde da noite.
De acordo com um Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, sobre o período 2011-2017, dos mais de 184 mil casos de violência sexual registrados no Brasil, 90 mil foram contra crianças e adolescentes ― 51% tinham de 1 a 5 anos, sendo que 69,2% dos casos aconteceram em casa, praticados por pessoas próximas.
O Dossiê Violência contra as Mulheres, do Instituto Patrícia Galvão, que compila dados de diferentes fontes, demonstrou que a violência sexual contra mulheres no Brasil é praticada em sua maioria por familiares de primeiro grau (pai/mãe), cônjuges, namorados, amigos e patrões. O mesmo levantamento aponta que são registradas 500 mil denúncias de estupro em todo o Brasil anualmente, mas esse número pode ser muito maior em razão da omissão das vítimas.
Impunidade no Brasil
A impunidade é outro problema que favorece a cultura do estupro, sobretudo em razão da ineficiência das leis brasileiras. O Índice de Confiança na Justiça , produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2018, apontou que 80% dos entrevistados consideram a Lei Maria da Penha pouco ou nada eficaz.
Outro ponto foi com relação ao desconhecimento do que fazer diante de violência familiar: 40% dos entrevistados disseram que o melhor é procurar uma delegacia comum; 31%, a delegacia da mulher; e 10%, parentes, igrejas ou centros religiosos.
Soma-se a isso o fato de que muitas mulheres não denunciam o estupro por medo da reação das autoridades ou por temerem humilhação e constrangimento.
Mas a questão vai muito além, e não há números concretos sobre estupros domésticos, pois a condição de submissão ao marido, impede muitas mulheres de reconhecerem o ato criminoso. Outra questão são as ameaças dos estupradores em caso de denúncia, como aponta o dossiê do Instituto Patrícia Galvão.
Cultura do estupro no Brasil: redação
Como você pôde perceber, por se tratar de um assunto delicado e que exige profunda reflexão, caso algum dos vestibulares explore na proposta de redação a cultura do estupro no Brasil, é preciso que você desenvolva um raciocínio bastante claro, embasado em dados concretos como os apresentados neste post.
Para começar, é preciso observar cuidadosamente a proposta e ler os textos motivadores. Esses textos são importantes, pois eventualmente apresentam dados que você pode incluir em sua produção textual. Mas lembre-se de não ficar preso exclusivamente a eles. Adicione conhecimentos teóricos extras e suas percepções pessoais a respeito do assunto, desde que comprovadas por dados concretos.
Vale lembrar que esse tipo de texto é dissertativo-argumentativo, e não é aceito nenhum outro formato. Isso significa que você deverá começar o texto apresentando o tema com evidências que reforcem a temática, um bom desenvolvimento e a proposta de intervenção no final.
Para a proposta de intervenção, pense em como mudar esse quadro e promover um equilíbrio social, com ações viáveis e explique por que essas ações são válidas.
Por último, tome cuidado com o direcionamento do seu texto. Afinal de contas, se o objetivo é falar sobre cultura do estupro no Brasil, não dê um foco internacional, por exemplo. Sendo assim, concentre-se em informações nacionais.
Agora que você compreende melhor a questão da cultura do estupro no Brasil, confira este outro artigo sobre feminicídio. E se você deseja ficar bastante afiado para prestar o vestibular este ano, aproveite para conferir nosso plano de estudo, escolhendo o ideal para você!