Jovens aprovadas no vestibular explicam o que é ser mulher
Hoje, dia 8 de março, é o Dia da Mulher. Conheça a opinião das nossas alunas aprovadas nos vestibulares
Você sabia que das 55 redações nota 1000 do Enem 2018, 76% delas foram escritas por mulheres? Pois é, elas ganham também entre os brasileiros com ensino superior completo: 17,5% contra 13,7%, segundo dados do IBGE levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, em 2017.
Entretanto, por mais que o desempenho das mulheres brasileiras nos estudos seja superior ao dos homens, a remuneração média deles no mercado de trabalho continua sendo maior. E essa porcentagem de diferença se alarga conforme o tempo dentro das instituições de ensino.
As mulheres com cinco a oito anos de estudo recebem por hora 24% a menos que os homens com a mesma escolaridade. Para 12 anos de estudo ou mais, essa diferença entre gêneros atinge 34%.
Além disso, entre pessoas de 15 a 29 anos, as mulheres são maioria trabalhando e estudando ao mesmo tempo. Das respondentes, 28,7% trabalham e estudam. Já entre os homens, esse total é de 17,4%.
Mas o que pensam nossas estudantes aprovadas nas principais universidades do país? Nós convidamos três alunas aprovadas no vestibular para comentar o assunto.
Moradora de Goiânia, Priscilla Castro tem 23 anos e está cursando Medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG). Ela estudou a vida toda em escolas públicas e sofreu com colégios que apresentavam instalações precárias e velhas.
Sempre foi muito esforçada e tirou boas notas, mas percebeu que se quisesse conquistar uma vaga em uma instituição de qualidade, precisaria investir em um bom cursinho. Ao se deparar com os altos preços dos que existiam em sua cidade, optou por estudar à distância e conseguiu chegar lá.
Priscilla acredita que, apesar dos inúmeros avanços dos últimos anos, ser mulher continua sendo muito mais difícil. “Ainda há muita desigualdade, ganhamos menos e, muitas vezes, nos sentimos vulneráveis”. No entanto, conta que buscou sempre converter tais dificuldades ao seu favor.
Francieni Barbosa, recém-aprovada em Direito na UFPB
A capixaba Francieni Barbosa Soares, 23 anos e acadêmica do Centro Universitário Católico de Vitória, também aprovada em Direito na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pretende ser delegada.
Tal escolha a faz ouvir frequentemente indagações como “nossa, mas você é tão delicada, por que não segue outra área?”; “Tem certeza que é essa profissão que você quer para a sua vida”; “acho que você não combina com isso”, entre outras perguntas carregadas de preconceito.
“Essa distinção entre o que deve ser de homem e o que deve ser de mulher é um dos grandes problemas que vivenciamos. Não se pode negar que há distinções biológicas entre os homens e as mulheres, mas não a ponto de determinar que tipo de profissão cada um deve seguir”.
Ela ainda afirma que “essas críticas fizeram com que eu deseje cada dia mais exercer essa profissão para que quem duvidou de mim aprenda que nada pode dissuadir quem tem determinação para buscar um sonho”, arremata.
Gabriella Ortola, aprovada em História na USP
Já Gabriella Ortola, paulista de 18 anos e estudante de História na USP, concorda que ser mulher continua sendo muito complicado em relação às questões de desigualdade. “Nós conquistamos muitas coisas, mas ainda tem muito chão pela frente”.
Ela afirma que “as mulheres ganharam direito ao voto, mas ainda não têm direito de andar na rua à noite. Podem trabalhar fora, mas ainda são vistas com maus olhos quando deixam a maternidade de lado por causa disso”, critica.
Como exemplo vivo de quem não se conforma com a realidade que enxerga, a intenção da universitária é trabalhar como professora e, ao ter acesso às salas de aula, lutar para conscientizar seus alunos.