10 poemas de Drummond que podem aparecer no ENEM
Autor possui 16 questões em todas as edições do exame
Quem estuda para o Enem resolvendo as edições das provas anteriores sabe que o poeta mais abordado em todas os exames é Carlos Drummond de Andrade. Ao todo, ele apareceu em mais de 16 questões durante as diferentes edições.
Drummond nasceu em Itabira (MG) em 1902. Seus poemas relatam assuntos do cotidiano, sempre utilizando ironia e seu pessimismo característico. Os principais temas retratados em suas obras são: conflitos sociais, lembranças do local de sua origem e visão crítica tanto do mundo, quanto dos homens.
Em homenagem ao dia Nacional da Poesia, separamos uma coletânea com os poemas mais famosos e requisitados do mineiro.
Os poemas listados são cobrados geralmente nas provas de Literatura de cada vestibular, mas também existe a possibilidade de fazerem parte dos textos motivadores das propostas de redação.
A professora Marina, coordenadora de Redação do Stoodi, acredita que o uso dos poemas ocorre geralmente para retratar um problema social que será discutido pelo aluno na redação. “É importante fazer uma interpretação cuidadosa dos poemas para apreender a situação retratada pelo texto”, explica.
Foto: reprodução Revista Bula
Confira o TOP 10:
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Verbo ser
QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando
em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia
a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom?
É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas
coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando
crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para
entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim
mesmo. Sem ser. Esquecer
José
“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Poema das sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Sentimento do mundo
Antigamente
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante
dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de
cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro.
Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir
nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de
debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho,
aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates.
Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre,
mesmo que não entendesse patavina da instrução moral
e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões
para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que
no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos.
Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau
de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de
galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de
um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os
coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele
abria o arco.
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedavase de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos. Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
Procura da poesia
(…)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(…)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada, ?
ninguém a rouba mais de mim.