O que é o contratualismo e o que defende?

O que é o contratualismo e o que defende?

Imagine um mundo sem leis, autoridades ou estruturas que guiem a convivência entre as pessoas. Nesse cenário, todos estão em uma luta constante por sobrevivência, onde a força e o medo governam. Essa ideia, conhecida como estado de natureza, foi amplamente debatida por filósofos que buscavam entender como as sociedades foram formadas. Assim surge o contratualismo, uma corrente filosófica que propõe que a organização social nasce de um pacto entre os indivíduos: o contrato social.

O contratualismo não é apenas um conceito teórico. Ele foi fundamental para a criação do Estado Moderno e para a consolidação de direitos como a liberdade, a igualdade e a propriedade. Neste artigo, vamos explorar o significado do contratualismo, seus principais pensadores e a relevância que ele ainda tem para a sociedade e para os vestibulares.

O que é o Contratualismo?

O contratualismo é uma teoria filosófica que busca explicar como a sociedade foi formada e por que os indivíduos concordam em viver sob leis e governos. Para os contratualistas, a sociedade não é natural, mas sim fruto de um acordo racional entre as pessoas, chamado de contrato social. Esse pacto serve para garantir uma convivência harmônica, protegendo direitos e definindo deveres.

Antes do contrato social, os seres humanos viveriam no chamado estado de natureza, uma condição sem leis ou estruturas organizadas. Esse estado varia de acordo com cada filósofo: para alguns, é um ambiente caótico e violento; para outros, é uma fase de liberdade, mas com desafios que justificam a criação de um governo.

O contratualismo é a base de muitas teorias políticas modernas e influência até hoje como entendemos governos, leis e direitos individuais.

Além disso, o contratualismo tem uma aplicação prática: ele fundamentou o desenvolvimento de conceitos como Estado de Direito, direitos humanos e teorias liberais, pilares das democracias contemporâneas.

Quem criou o contratualismo?

O contratualismo não foi criado por uma única pessoa, mas desenvolvido ao longo do tempo por diferentes pensadores que contribuíram com suas perspectivas e teorias. Embora as ideias contratuais existam desde a antiguidade, foi na Era Moderna, entre os séculos XVII e XVIII, que o contratualismo ganhou forma através de três grandes filósofos: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.

Saiba mais: Qual a melhor forma de estudar sociologia?

Principais Pensadores Contratualistas e Suas Ideias

Thomas Hobbes: O Contrato e o Leviatã

Retrato de Thomas Hobbes. Contratualismo.
Retrato de Thomas Hobbes | Fonte: Times Literary Supplement

Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado o pioneiro do contratualismo moderno. Em sua obra “Leviatã” (1651), Hobbes descreveu o estado de natureza como uma condição caótica, onde todos lutavam contra todos pela sobrevivência. Ele acreditava que, nesse estado, a vida seria “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta”. Para Hobbes, os seres humanos, guiados por seus interesses egoístas e pela busca da autopreservação, concordaram em estabelecer um contrato social para criar uma autoridade comum.

Essa autoridade, representada pelo Leviatã, seria responsável por impor leis e garantir a segurança. Hobbes defendia um governo absolutista, no qual o soberano teria poderes ilimitados para evitar o retorno ao estado de natureza. Ele acreditava que a submissão total ao governante era essencial para manter a ordem.

  • Ideias principais de Hobbes:
    • O estado de natureza é um cenário de constante conflito.
    • O contrato social é necessário para garantir a segurança e a paz.
    • O governo deve ser centralizado e absoluto, com poder inquestionável.
    • Sem um soberano forte, os humanos retornariam ao caos e à desordem.

Embora o pensamento de Hobbes seja frequentemente criticado por sua visão pessimista da natureza humana, ele foi essencial para iniciar o debate sobre o papel do contrato social e da autoridade na sociedade.

John Locke: Direitos Naturais e Liberdade

John Locke (1632-1704) apresentou uma visão bem diferente da de Hobbes. Em “O Segundo Tratado sobre o Governo” (1689), Locke descreveu o estado de natureza como um ambiente onde as pessoas eram livres e iguais, mas vulneráveis a conflitos que ameaçavam seus direitos naturais — vida, liberdade e propriedade.

Locke acreditava que os indivíduos eram racionais e capazes de colaborar, mas que um governo limitado era necessário para garantir seus direitos e resolver disputas. Para ele, o contrato social não significava submissão total, mas um acordo para criar um governo que agisse como mediador e protetor. Locke também defendia que, se o governo abusasse de seu poder, os cidadãos teriam o direito de resistir e até de substituí-lo.

  • Ideias principais de Locke:
    • O estado de natureza é uma condição de liberdade, mas com riscos.
    • O contrato social protege os direitos naturais e limita o poder do governo.
    • O governo deve ser baseado no consentimento dos governados.
    • Os cidadãos têm o direito de revolta contra governos tirânicos.

Locke é considerado o pai do liberalismo, e suas ideias influenciaram diretamente revoluções como a Americana e a Francesa, além de documentos como a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Ele trouxe à filosofia política a noção de que o poder deve estar subordinado à lei e aos interesses do povo.

Jean-Jacques Rousseau: A Soberania Popular

Retrato de Rousseau. Contratualismo.
Retrato de Jean-Jacques Rousseau | Fonte: Editora UNESP

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) apresentou uma abordagem ainda mais radical e democrática do contratualismo. Em sua obra “Do Contrato Social” (1762), Rousseau argumentou que o estado de natureza era inicialmente uma condição de liberdade e igualdade, mas que foi corrompido pela introdução da propriedade privada, que gerou desigualdade e conflito.

Para Rousseau, o contrato social deveria ser um pacto entre iguais, no qual todos abrissem mão de sua liberdade individual para formar uma vontade geral, que representasse os interesses coletivos. Ele acreditava que a soberania deveria estar no povo, e não em um governante, e que as leis deveriam ser uma expressão da vontade geral.

  • Ideias principais de Rousseau:
    • O estado de natureza era harmônico, mas foi corrompido pela propriedade privada.
    • O contrato social deve restaurar a igualdade e refletir os interesses coletivos.
    • A soberania reside no povo, e a vontade geral deve prevalecer.
    • A liberdade só é possível quando todos obedecem às leis que eles próprios criaram.

Rousseau inspirou movimentos revolucionários, como a Revolução Francesa, e é considerado um precursor das ideias de democracia direta. Sua visão de uma sociedade justa e igualitária continua a influenciar debates sobre políticas públicas e direitos sociais.

O Estado de Natureza e a Formação do Contrato Social

O conceito de estado de natureza é central no contratualismo, mas varia conforme o filósofo. Para Hobbes, é um estado de guerra; para Locke, é uma condição de liberdade vulnerável; e para Rousseau, uma fase de harmonia antes da corrupção pela sociedade.

O contrato social surge como solução para os problemas do estado de natureza. Ele define os direitos e deveres dos indivíduos, garantindo a organização política e social. Esse contrato não é apenas uma teoria; ele serviu de base para a formação de Estados modernos e para o desenvolvimento de democracias.

Retrato de John Locke. Contratualismo.
Retrato de John Locke | Fonte: The John Locke Society

Comparação entre as visões do Estado de Natureza

  • Hobbes: Violência e insegurança constantes, exigindo um governo autoritário.
  • Locke: Liberdade com riscos à propriedade, necessitando de um governo limitado.
  • Rousseau: Harmonia inicial corrompida pela desigualdade, demandando a soberania popular.

O Contratualismo e sua influência na sociedade moderna

Imagine uma época em que reis governavam por “direito divino”, sem prestar contas ao povo. Foi o contratualismo que trouxe a ideia de que o governo deve servir aos interesses da sociedade, e não o contrário.

Ele moldou conceitos essenciais para a política moderna, como o Estado de Direito, que garante que todos estão sujeitos às leis, e os direitos humanos, que protegem os indivíduos contra abusos de poder.

Além disso, ele influenciou movimentos históricos, como a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos, e inspirou sistemas democráticos ao redor do mundo. A ideia de que o poder deve vir do consentimento dos governados é um legado direto do contratualismo.

Contratualismo no Vestibular e no Enem

O contratualismo é frequentemente abordado em questões de sociologia e filosofia no Enem. Geralmente, as perguntas pedem para comparar as teorias de Hobbes, Locke e Rousseau, ou relacionar o contratualismo a temas como direitos humanos e desigualdade social.

Perguntas frequentes em provas

  1. Qual é a visão de Hobbes sobre o estado de natureza?
  2. Como Locke relaciona o contrato social à proteção dos direitos naturais?
  3. Por que Rousseau considera a propriedade privada uma fonte de desigualdade?

Saiba mais sobre filosofia política no Enem:

Por que o contratualismo continua relevante?

O contratualismo permanece relevante porque trata de questões universais: como organizar uma sociedade justa, como equilibrar liberdade e segurança, e como proteger os direitos individuais. Em tempos de crises políticas e desigualdade, as ideias de Hobbes, Locke e Rousseau continuam a oferecer insights valiosos.

Quer entender mais de filosofia e sociologia para arrasar no Enem e vestibulares? Conheça os planos Stoodi e comece já a preparação em busca da sua vaga!