Filosofia medieval: contexto histórico e principais filósofos
Entenda tudo sobre a Filosofia Medieval nesse artigo completo
Cá estamos novamente. Desta vez, para falar de filosofia medieval, um tema surpreendentemente pouco conhecido.
A princípio, pode parecer que isso se deve ao fato de ser uma corrente de pensamento desenvolvida há muito tempo, distante das nossas preocupações atuais. Mas nada poderia estar mais longe da verdade, principalmente, porque o elemento central da filosofia medieval não é ninguém menos do que Deus.
E não podemos negar que a relação com o divino e o sagrado continua muito presente nas sociedades humanas, não é mesmo?
Por outro lado, você pode se perguntar: só Deus? Um único tema durante toda uma era histórica?
É uma boa pergunta e a resposta é não. Principalmente, porque deste ponto central, desdobram-se inúmeras questões importantes para os filósofos medievais.
De forma geral, a filosofia medieval se preocupava em compreender o papel da humanidade, em relação a sua divindade, bem como entender seus propósitos.
Isso já nos fornece uma boa ideia de quais eram os grandes temas da filosofia medieval, mas houve diferentes correntes de pensamento.
De fato, existiram, pelo menos, quatro escolas filosóficas bem distintas no período e considerando que tratamos de um intervalo de mais de mil anos, até que foram poucas.
Então, vejamos quais foram estas correntes e como se encaixavam no contexto histórico.
Filosofia Medieval: Principais escolas filosóficas e contexto histórico
Para começar, vamos lembrar que a Idade Média se estende da queda do Império Romano do Ocidente até o renascimento.
Estas divisões são apenas uma referência, pois a primeira escola considerada como pertencente a filosofia medieval surgiu antes da queda de Roma.
1. Filosofia Apostólica (Filosofia dos Apóstolos)
O nome mais conhecido desta escola é Paulo de Tarso. Naquele período (séculos I e II d.C.), a grande preocupação ainda era a difusão do pensamento cristão. Ou seja, espalhar a mensagem bíblica.
Nos séculos seguintes, entretanto, temos um novo cenário com as invasões bárbaras, a popularização do próprio cristianismo e a divisão do Império Romano. Em outras palavras, ocorre uma onda de mudanças sociais, acompanhadas também pelo crescimento da igreja, como uma instituição formal.
2. Filosofia Apologética
Neste novo contexto, com uma base de fiéis muito grande, o cristianismo apresenta um novo tipo de filosofia medieval, chamada apologética.
Ou seja, que faz apologia às escrituras sagradas, negando toda a filosofia anterior, considerada pagã (da tradição clássica greco romana).
Estas duas primeiras escolas, tiveram um papel fundador, estabelecendo as bases sobre as quais as próximas gerações de filósofos medievais trabalhariam.
3. Filosofia Patrística
Com a igreja e o cristianismo plenamente estabelecidos, surgia a possibilidade de aprofundar muitas questões existenciais.
Além disso, é a partir daqui que entramos no período medieval propriamente dito, com o maior nome desta escola sendo Santo Agostinho.
Falaremos mais sobre ele adiante, mas pode-se dizer que a principal característica desta escola era conciliar fé e razão. Compreender como a razão podia explicar ou estar a serviço da fé. Uma tarefa difícil até os dias atuais.
4. Filosofia Escolástica
Justamente por ser difícil conciliar fé e razão, muitos teólogos se recusavam a conceder qualquer importância à razão que não fosse estritamente obediente aos preceitos da fé.
Isso porque, conforme o conhecimento científico desafiava os temas cristãos, impondo perguntas cada vez mais difíceis, muitos teólogos reagiam condenando a razão.
Ou seja, forçando uma cisão entre fé e razão, até o ponto da razão ser considerada uma faculdade subalterna, menos importante que a fé.
Vale destacar que até a filosofia medieval de São Tomás de Aquino, apesar de pertencer a uma nova corrente (escolástica), retomava o pensamento de Santo Agostinho.
Sendo assim, para facilitar sua vida, vamos esquematizar alguns dos principais temas da filosofia medieval.
Filosofia Medieval: Principais problemas filosóficos
Direto ao ponto, pense sobre estas perguntas:
- Qual a natureza da alma humana?
- Como existe esta alma?
- Qual a relação entre Deus e Cristo?
- Qual a natureza da Trindade?
- É possível falar em uma natureza de Deus?
- Qual a relação entre fé e razão?
- Existe hierarquia entre ambas?
- Seria a fé uma forma elevada da razão?
Parecem perguntas soltas, mas estão todas relacionadas a três grandes eixos temáticos, os principais problemas da filosofia medieval:
- Conhecer e entender a natureza divina;
- Compreender e determinar a relação da humanidade com a divindade;
- Estabelecer os campos da fé e da razão.
Ainda um pouco confuso? Talvez pensar um pouco sobre estas questões da forma como Agostinho e Tomás de Aquino as trataram pode te ajudar.
Então, vejamos em linhas gerais, algo sobre o pensamento destes que foram os dois mais respeitados pensadores da filosofia medieval.
Filósofos da filosofia medieval
Alta Idade Média: Santo Agostinho e o pensamento livre
O primeiro deles, Santo Agostinho, viveu os últimos anos do Império Romano e foi o responsável por transformar todo o pensamento cristão.
Considerando que você está se preparando para o Enem e, provavelmente, pensando no vestibular, segue um aviso: aqui está a parte mais importante da filosofia medieval.
Para começar, Agostinho desenvolveu a ideia de uma Cidade de Deus, representando o mundo espiritual, em contraposição ao mundo terreno. Como um desdobramento desta ideia, também haveria um “tempo de Deus”, diferente do humano.
Isso implicava, por exemplo, em uma interpretação controversa da Bíblia, pois, para ele, o tempo seria infinito no plano divino. Ou seja, Deus teria criado todo o universo em um único instante, apesar da descrição bíblica, estabelecer seis dias para a criação.
Neste mesmo sentido, Agostinho passou a redefinir os entendimentos da trindade, do pecado original e outros pontos sensíveis para os cristãos.
Mas polêmicas à parte, seus pensamentos refundaram a filosofia medieval, abrindo as portas para discussões mais abrangentes, como a relação entre fé e razão.
A partir dele, a filosofia medieval ganhou o nome de patrística e assim permaneceu, discutindo mais ou menos os mesmos problemas, até que o contexto permitisse mudanças.
Baixa Idade Média: São Tomás de Aquino e o caminho do renascimento
Tomás de Aquino viveu muito depois de Santo Agostinho, já no século XIII e o contexto de sua época permitia a retomada dos clássicos. Mais importante, permitia a retomada da filosofia grega, sobretudo de Aristóteles, a quem Aquino devotava grande respeito.
Às portas do renascimento, Aquino era um fruto do seu tempo. Podia se dar ao luxo de retomar o pensamento clássico e conciliar, mais uma vez, fé e razão, dentro do cristianismo.
Embora não falasse em um “tempo de Deus”, falava em uma “completude de Deus”, algo que significava que todo o sentido da vida estava no plano divino. Aos homens, não cabia outro sentido de existência, que não a busca da felicidade pela graça divina.
Como se vê, apesar dos nomes de escolas e dos contextos históricos diferentes, entre o início do primeiro milênio e o renascimento, Deus sempre foi o grande tema.
E mesmo hoje, após várias renovações de toda a filosofia ocidental, ainda assim, a filosofia medieval permanece presente na base da filosofia contemporânea.
Como nota final, cabe dizer que, no mesmo período, surgiram muitas outras escolas filosóficas importantes, principalmente, no Oriente Médio. No entanto, na grade curricular brasileira e no ocidente em geral, não costumamos estudá-las.
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